Ingo Ostrovsky, 50emais
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Semana passada eu escrevi aqui sobre a mentira ter pernas curtas e depois me lembrei de um outro ditado bastante popular entre nós: mentir, trair e coçar é só começar. As mentiras do novo BBB, o Big Brother Brasília, continuam, cada vez mais sofisticadas e, para meu gosto, carregadas de uma cara-de-pau impressionante.
Mais uma vez fui aos dicionários, agora à procura de sinônimos para cara-de-pau: sem-vergonha, atrevido, descarado, insolente, arrogante e cínico foram alguns dos que encontrei. Fui mais longe e apelei para o ínclito Sérgio Rodrigues e seu excelente site Todo Prosa, dedicado à literatura, que vasculha origens e significados dos termos que usamos no nosso linguajar corrente.
Sérgio revela que cara-de-pau é uma expressão razoavelmente recente, que tem equivalência em Portugal, onde é mais conhecida como “cara estranhada”. Fala Sérgio: “é a capacidade de contar mentiras, adotar práticas condenáveis ou justificar comportamentos sórdidos, mantendo sempre no rosto uma expressão neutra, impassível. Até sua ambivalência moral – a cara-de-pau do político corrupto, que provoca indignação, é a mesma exibida por heróis picarescos tidos como emblemas da nacionalidade, como Macunaíma e João Grilo, que nos divertem – contribui para fazer dela uma instituição nacional”.
Me lembro de uma época em que se dizia que o sujeito era tão cara de pau que lavava o rosto com óleo de peroba… uma criação bastante brasileira, imagino.
Fico ainda mais impressionado com a cara de pausice de suas excelências porque atualmente, está tudo gravado, rede-socialisado, todo mundo viu e ouviu e, no entanto, os mentirosos tem a pachorra de negar o óbvio. O sujeito que mente – por exemplo, o que produz fake news – não precisa provar nada, só contar e espalhar bem sua mentira. Quem fala a verdade é que tem que prová-la, defendê-la, procurar as evidências. Tá certo isso?
Conheci no passado um profissional de rádio que toda vez que era confrontado por algo inapropriado dito no ar, fôsse falha de informação, errinhos de concordância ou qualquer coisa semelhante, dizia que isso era erro do ouvinte: “ele que ouviu errado, eu jamais diria uma bobagem dessas”. Hoje em dia o sujeito é apresentado à foto dele na porta do bordel e brada com convicção “não sou eu”. E ainda consegue uma gorda contribuição – pode até ser em forma de patrocínio estatal – à cafetina para dizer “não o conheço, nunca o vi aqui nos meus domínios”.
Para finalizar, uma historinha famosa entre cronistas esportivos, que envolve o jogador Dirran, do Rio Grande do Norte, que com seu 1,58m era sério candidato a craque das pernas curtas. Num jogo entre seu time, o Alecrim, e o ABC de Natal na década de 70, Dirran fez 5 gols, 2 deles de cabeça e, claro, foi o craque do jogo. À beira do gramado, no fim da partida, um repórter lhe perguntou: “Dirran, esse seu nome é francês?” A resposta: “Não! É que eu sou baixinho e meu apelido é Cú de Rã, mas como não pode falar isso na rádio eles abreviaram para Dirran”.