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Nem ela mesma acreditava que um dia chegaria a ser celebrada como rainha. Dois anos mais velha do que o rei Charles Terceiro, Camilla Parker Bowles, sobrenome que herdou do primeiro mariido, foi uma das mulheres mais hostilizadas do Reino Unido, apontada como responsável pelo fim do casamento de Charles com a princesa Diana, essa sim, verdadeiramente adorada pelos súditos.
Essa longa reportagem de Sarah Campbell para a BBC dá a dimensão do sofrimento de Camilla ao longo de todo esse processo, que começou quando os dois se apaixonaram, ainda bem jovens, e termina neste final de verão (para eles) com a chegada dela ao Palácio de Buckingham, em Londres, residècia oficial do rei.
Como morei em Londres muitos anos, trabalhando como jornalista para a BBC, acompanhei de perto o drama da separação de Diana e Charles, a morte trágica da princesa em Paris, há exatos 25 anos, o assédio brutal dos tablóides a Camilla e sua execração.
Ela resistiu. E, agora, com a morte da quase centenária Elizabeth Segunda, entra em cena, aos 75 anos, para desempenhar seu papel maior: de rainha.
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Ela é o amor da vida de Charles, sua confidente desde a juventude e sua esposa há 17 anos. E, agora, sua rainha consorte.
O público se acostumou a ver Camilla ao lado do marido nos principais eventos e comemorações nacionais e internacionais, mas, como ela admitiu, isso está longe de ser fácil.
Poucas mulheres foram tão publicamente difamadas quanto Camilla Parker Bowles. Ela era “a outra mulher” no fim do casamento do século, infinitamente comparada a Diana, a princesa de Gales.
Ao escolher Charles, ela mudou sua vida. Durante anos ela foi perseguida pela imprensa, com seu caráter e aparência implacavelmente atacados. Mas ela resistiu à tempestade e, gradualmente, consolidou sua posição como a integrante feminina mais antiga da Família Real.
Foi uma jornada e tanto para a mulher por quem, dizem, o príncipe Charles se apaixonou imediatamente quando se conheceram com 20 e poucos anos de idade.
A aceitação total da rainha Elizabeth 2ª levou tempo, mas, em seus últimos anos, ela foi inequívoca em seu apoio a Camilla. A nova rainha pode nunca alcançar a aceitação total do público, mas, como ela mesma disse em entrevista à revista Vogue no início deste ano: “Eu meio que supero isso e sigo em frente. Você tem que seguir com a vida”.
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Casar-se com o herdeiro do trono não teria sido o futuro previsto para Camilla Rosemary Shand, que nasceu em 17 de julho de 1947. Sua família era de classe alta, rica e bem relacionada, mas definitivamente não era da realeza.
Ela cresceu em um ambiente amoroso e unido, brincando com seu irmão e irmã em uma pitoresca propriedade familiar em Sussex. Seu pai, Bruce Shand, um oficial aposentado do Exército, gostava de ler histórias de ninar, e sua mãe, Rosalind, levava as crianças para a escola, atividades cotidianas e praia. Foi uma infância muito diferente da de Charles, que passava longos períodos sem os pais enquanto eles viajavam pelo mundo.
Uma escola na Suíça preparou Camilla para a vida de debutante na sociedade londrina. Ela era popular e, a partir de meados dos anos 1960, estava em um relacionamento intermitente com um oficial da Cavalaria Doméstica chamado Andrew Parker Bowles.
No início dos anos 1970, ela foi apresentada ao jovem príncipe Charles. De acordo com Jonathan Dimbleby, que escreveu uma biografia do príncipe, “ela era carinhosa, era despretensiosa e – com toda a intensidade do primeiro amor – ele se apaixonou por ela quase instantaneamente”.
Mas o momento não era correto. Charles ainda tinha pouco mais de 20 anos e seguia uma carreira na Marinha. Ele partiu para uma missão de oito meses no exterior no final de 1972. E, enquanto ele estava fora, Andrew pediu Camilla em casamento, e ela aceitou. Por que não esperar Charles fazer a proposta? Amigos especularam que ela simplesmente nunca se viu como uma rainha.
Por mais desprezado que Charles pudesse ter se sentido, eles continuaram a fazer parte da vida um do outro. Eles frequentavam os mesmos círculos sociais, Charles e Andrew jogavam polo juntos, e o casal pediu a Charles para ser padrinho de seu primeiro filho, Tom. Fotografias de Charles e Camilla em encontros de polo mostram uma intimidade descontraída.
No verão de 1981, Charles conheceu e pediu em casamento a jovem Diana Spencer. Ainda assim, Camilla fazia parte de sua vida. Em Diana: Her True Story (“Diana: Sua Verdadeira História”, em tradução livre), o autor Andrew Morton detalhou como Diana quase cancelou o casamento dois dias antes depois de encontrar uma pulseira que Charles havia feito para Camilla gravada com as letras “F” e “G” – seus apelidos carinhosos um para o outro eram Fred e Gladys.
Que Diana lutou com o relacionamento de Camilla com o marido é inquestionável. Charles insistiu que eles só retomaram seu romance quando seu casamento “se desfez irremediavelmente”. Mas, como Diana tão memoravelmente afirmou na agora desacreditada entrevista ao programa Panorama, da BBC, em 1995, “havia três neste casamento”.
À medida que os casamentos de Charles e Camilla se deterioravam, algumas das manchetes eram excruciantes, talvez nenhuma mais do que os detalhes de um telefonema tarde da noite gravado secretamente em 1989 e tornado público quatro anos depois. O desejo expresso de Charles de ser o absorvente interno de Camilla deixou claro o nível de intimidade entre eles.
O divórcio de Camilla foi finalizado em 1995. O casamento de Charles e Diana terminou oficialmente em 1996.
É um sinal da força do sentimento que Camilla tinha por Charles que ela escolheu ficar com ele, apesar da hostilidade pública e perturbação que causou à sua própria família, especialmente seus dois filhos, Tom e Laura.
Tom Parker Bowles falou sobre os dias em que os paparazzi costumavam se esconder nos arbustos do lado de fora da casa da família em Wiltshire. “Não há nada que alguém possa dizer sobre nossa família que nos ofenda”, escreveu ele no jornal The Times em 2017, acrescentando: “Minha mãe é à prova de balas”.
Sobre aqueles dias, Camilla disse: “Ninguém gosta de ser observado o tempo todo. Você só precisa encontrar uma maneira de conviver com isso”.
Encontrar uma maneira de lidar com as críticas tornou-se ainda mais difícil em 1997, após a morte de Diana. Publicamente, Charles se concentrou em seus filhos William e Harry, e Camilla saiu de vista. Mas o relacionamento deles continuou.
A posição de Charles era que Camilla não era negociável em sua vida, e assim começou uma campanha cuidadosamente coreografada para reabilitá-la aos olhos do público. Tudo começou no Ritz Hotel em 1999, de onde saíram juntos tarde da noite depois de comemorar o aniversário de 50 anos da irmã de Camilla. Seis anos depois, eles se casaram em uma pequena cerimônia civil em Windsor Guildhall.
Qualquer preocupação que o casal pudesse ter de que a multidão pudesse reagir negativamente aos recém-casados se mostrou infundada, porque foram recebidos por aplausos de simpatizantes.
Mas, por muitos anos, o debate continuou sobre se ela algum dia seria conhecida como rainha. Embora legalmente autorizada a usar o título, a posição oficial era que ela seria conhecida como princesa consorte, como uma forma de apaziguar aqueles que a culpavam pelo fim do casamento de Charles e Diana.
No final, o assunto foi resolvido pela rainha, que disse em 2022 que era seu “sincero desejo que, quando chegar a hora, Camilla seja conhecida como rainha consorte”. Aqui estava a confirmação de que Camilla havia conquistado seu lugar ao lado de Charles. Qualquer debate público foi efetivamente encerrado.
Se a rainha inicialmente desconfiava de Camilla, os príncipes William e Harry devem ter desconfiado ainda mais. Ambos tiveram que lidar com a separação pública do casamento de seus pais e, em seguida, a morte de sua mãe quando William tinha 15 anos e Harry apenas 12.
Em 2005, alguns meses após o casamento, Harry, com quase 21 anos, disse que Camilla era uma “mulher maravilhosa” que deixou seu pai muito feliz. “William e eu a amamos muito e nos damos muito bem com ela.”
Pouco foi dito por ambos os irmãos sobre seus sentimentos por Camilla nos anos seguintes. No entanto, observando as interações e a linguagem corporal entre William, sua esposa Catherine e Camilla em compromissos públicos, há um afeto e uma familiaridade que sugerem que as relações, pelo menos com os Cambridge, são boas.
Agora em seus 70 e poucos anos, a vida de Camilla gira em torno de apoiar seu marido e sua família. Suas relações com Windsor podem gerar as manchetes, mas longe dos holofotes, Camilla também é uma avó entusiasmada de cinco filhos. Ela manteve sua casa em Wiltshire, para onde vai para relaxar.
“Ela tem uma família muito unida e solidária, e um grupo próximo de velhos amigos”, disse seu sobrinho Ben Elliott à revista Vanity Fair. “Ela adora o marido, filhos e netos.”
Camilla também deixou sua marca em áreas pelas quais ela se sente apaixonada:
• aumentar a conscientização sobre a osteoporose, que afligia sua mãe e sua avó;• destacando assuntos difíceis, como abuso doméstico, estupro e violência sexual;• procurando transmitir o amor pelos livros herdado de seu pai com um clube do livro no Instagram.
Talvez porque tenha chegado à realeza tarde na vida, ela parece quase envergonhada pelo barulho que a cerca.
Enquanto cobria uma recepção de caridade na Clarence House, vi a duquesa espiando de canto no topo da escadaria, verificando se todos estavam prontos. Feliz por estarmos, ela desceu e deu um abraço e um beijo entusiasmados no executivo-chefe da instituição de caridade.
Durante o lockdown, a duquesa falou de sua tristeza por não poder dar um “grande abraço” em seus netos. À medida que as restrições diminuíam, ela claramente gostava de poder voltar a demonstrar afeto fisicamente.
Observando-a trabalhar em uma sala, fica claro que ela consegue deixar as pessoas à vontade. Ela não esconde o fato de achar que ter que fazer discursos é estressante, mas ganhou confiança ao longo dos anos.
Charles e Camilla estão casados há 17 anos. Em público, sua conexão é óbvia. Um olhar compartilhado, uma risada – raramente, há um evento em que em algum momento eles não pareçam estar compartilhando uma piada particular.
“Eles se amam e se respeitam e riem da mesma coisa”, disse Elliott à Vanity Fair.
Eles vivem vidas de luxo, mas sob o escrutínio mais intenso, e a pressão pode ser implacável.
“É sempre bom ter alguém do seu lado”, disse o príncipe Charles à emissora CNN no período que antecedeu seu 10º aniversário de casamento. “Ela é um apoio enorme e vê o lado engraçado da vida, graças a Deus.”
“Às vezes é como navios navegando à noite”, disse ela sobre a vida deles juntos, “mas sempre nos sentamos juntos e tomamos uma xícara de chá e discutimos o dia. Temos nosso momento.”
O papel do rei é solitário – e a relutância de Charles em desistir de Camilla talvez seja porque ele sabia que ela era a única pessoa que poderia fornecer a companhia de que ele precisaria no papel que está assumindo.