50emais
Uma crônica muito gostosa de Martha Batalha sobre o grande bem para o corpo e para a mente da prática da meditação.
Achei coincidência me deparar com o texto exatamente num momento em que um grande amigo tem estado em cima de mim para começar a meditar. Ele diz que a meditação transformou inteiramente a vida dele.
Como conhece bem o Brasil – ele é inglês -, chegou a me enviar o link de uma instituição – no Rio, Minas e em São Paulo – que acolhe pessoas por 10 ou 20 dias, para uma espécie de iniciação à prática de meditar.
Ler essa crônica me aproximou ainda mais da decisão de aderir à meditação.
Leia:
Por esses dias me veio uma imagem bastante clara da minha avó, ela com um caderno no colo na frente da televisão, assistindo às aulas do Telecurso Segundo Grau. Eu devia ter uns 6 anos, e vê-la estudando assuntos complicados com um professor televisivo aumentou minha admiração por ela. Só muito depois e já adulta, quando o entorno perdeu a magia e ganhou referências, eu entendi o real significado das aulas. Com a morte do companheiro, minha bisavó tirou a filha da escola para trabalhar como aprendiz de costureira e assim ajudar com as despesas da casa. Minha avó tinha 9 anos. Ela não chegou a terminar a terceira série primária.
Essa imagem da TV ligada, com alguém explicando equações para uma senhora atenta, surgiu na minha mente quando eu estava imóvel de olhos fechados, sentada de pernas cruzadas, no meio da minha prática diária de meditação. E me percebi igual à minha avó. Duas mulheres, em estágios e buscas diferentes, aprendendo tarde na vida o que deveriam ter assimilado na infância.
Meditar é ao mesmo tempo fácil e difícil. Requer estar consigo mesma alguns minutos por dia, parada, prestando atenção. É tão simples que eu pratico há 15 anos, e tão complicado que só recentemente consegui transformá-la em hábito. Nesse sentido, meditar não é muito diferente que escovar os dentes. Funciona, mas para quem se dedica, e para quem está disposto a ser honesto consigo mesmo. Porque não é agradável se ver sem filtros.
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Quando a gente para e se concentra na respiração se descola da mente. É possível percebê-la de um local neutro e entender como é insuportavelmente barulhenta, repetitiva e atroz. A mente se parece com uma criança esperneando no chão do shopping, querendo isso ou aquilo. Só que a capeta está dentro de você, berrando por dentro dos seus ouvidos, chutando a sua cabeça. Meditação ajuda a perceber que você não é a criança, e que é possível não ligar para o tanto que berra porque você, a sua consciência, é o adulto em controle da vida.
Tanto tempo eu passei, e ainda passo, sendo controlada pela mente-criança-mimada. Teria sido tão bom aprender a baixar o som dos pensamentos mais cedo.
É surpreendente que em 15 ou mais anos de educação formal fique de fora o aprendizado sobre quem somos, como pensamos e sentimos. Que sejamos instruídos a decorar os símbolos da tabela periódica e descrever o método reprodutivo dos protozoários, mas não somos ensinados a lidar de modo saudável com frustrações e carências, a permanecer inteira no presente, a aprender a escolher um companheiro ou amizades que nos façam bem.
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A gente chega aos 18 anos sabendo tudinho de álgebra e nada sobre essa extraordinária e milagrosa junção de corpo, alma e mente que nos compõe, a junção que por anos assimilou a tal da álgebra, na ilusão de que eram os números e conhecimentos afins que nos fariam completos na vida.
Aí vem um vácuo, né? Acrescido geralmente por escolhas ruins, ou não escolhas, a vida estagnada por medo e inércia. E chega a velhice com arrependimentos gigantescos envoltos muitas vezes em amargura. Dá trabalho se consertar. A psicanálise é uma das formas. A outra, escolhida por mim nesse estágio da vida, é meditação. Vamos ver onde me leva. Como a minha avó e seu primário incompleto eu ainda tenho muito a aprender.
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