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Boa parte dos homens se acha muito mais importante do que as mulheres. Esse senso de superioridade deles se reflete em tudo. Até no estudo de doenças que são tipicamente femininas.
Neste artigo de Mariza Tavares, do blog Longevidade: Modo de Usar, publicado por O Globo, dá para ver perfeitamente como somos escanteadas por uma ciência e medicina ainda muito voltadas para a saúde do homem.
“Historicamente, as mulheres não eram incluídas nos ensaios clínicos, o que se pode caracterizar como negligência. O consenso era: ‘o que é bom para os homens serve para as mulheres’, afirma o artigo, explicando que essa situação melhorou um pouco.
Leia:
A cardiologista Paula A. Johnson foi professora da faculdade de medicina de Harvard e se tornou a primeira mulher negra a ocupar a presidência do prestigioso Wellesley College. Acostumada a vencer barreiras, diz que sua agenda é pautada pela urgência:
“A saúde feminina não pode esperar mais. Precisamos de um ecossistema que atenda às necessidades da mulher. Não são apenas os órgãos sexuais que se desenvolvem de forma diferente, e sim todas as células do corpo. Resumindo: não se deve ignorar que toda célula tem um sexo”.
A doutora Johnson foi a principal palestrante da Academia Nacional de Medicina (NAM em inglês) no seminário intitulado “Saúde feminina, das células à sociedade” (“Women´s health, from cells to Society”), que acompanhei on-line no dia 9 de outubro. Na ocasião, enfatizou que determinantes biológicos da saúde da mulher ainda não são computados:
“Historicamente, as mulheres não eram incluídas nos ensaios clínicos, o que se pode caracterizar como negligência. O consenso era: ‘o que é bom para os homens serve para as mulheres’. Esse quadro já melhorou e a participação feminina nos ensaios subiu de 44%, em 2013, para 52%, em 2018. No entanto, o sexo não integra os resultados, e isso é ciência de má qualidade. Sexo é uma variável que tem que ser levada em conta e o próximo passo é incluir as minorias, como os transgêneros”.
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Ela afirmou que as queixas femininas não são valorizadas e que as doenças mais típicas nas mulheres também são menos estudadas, sem contar a questão de etnia: gestantes negras têm risco triplicado de morte causada por complicações durante a gravidez e o parto. Por fim, citou exemplos de questões que estão na ordem do dia, como o aumento do número de casos precoces de câncer e a crise de saúde mental em adolescentes:
“Temos que nos debruçar sobre a profunda influência dos fatores sociais, como o menor acesso à educação e o status social mais baixo, associados a uma maior vulnerabilidade. As mulheres vivem mais que os homens e a gerociência tem que viabilizar o envelhecimento feminino. Não somos um nicho de mercado, e sim a maioria da população do planeta!”.
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