Marlene Damico Lamarco
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“Aprendi com a primavera a deixar-me cortar para voltar sempre inteira”. Cecília Meireles.
Um corte rente, um machado certeiro, um galho aparentemente morto, destruído. A paisagem inóspita não abriga passarinhos e a sombra se transformou numa paisagem árida e triste.
Muitas vezes somos esse galho truncado e ardemos em dores quando nos arrancam os sonhos, os projetos mais queridos, ou somos saqueados em nossas esperanças.
Como acreditar na primavera, nesses momentos de morte? Como ter serenidade e fé para nos deixar podar, confiando no “voltar sempre inteira”?
Olhe para natureza e se abra ao aprendizado dos ciclos da vida. A maré não fica feliz quando avança nem fica deprimida quando recua.
Mas nós, muitas vezes, acreditamos que avançar é positivo e recuar é negativo. O que não é verdade, pois dar um passo para trás nos permite, muitas vezes, testemunhar coisas fantásticas, já que nos confere a distância necessária para enxergar todos os lados da situação. Concorda?
São novas visões que só acontecem quando abrimos um espaço de silêncio e reflexão em nossa rotina.
A esse respeito E. Tolle diz ,com sagacidade: “O que emerge no momento presente é a dimensão da consciência, que chamamos de “Presença”, que sempre esteve dentro de você, mas que foi encoberta pela densidade das emoções e do pensamento condicionado. Ao silenciarmos, o que emerge é a dimensão além da pessoa, a dimensão transpessoal, a única que nos possibilita ficarmos livres do limitado reino puramente pessoal, aquele que carrega os fardos do passado”.
E voltando à analogia com as estações do ano, vem o outono, quando as folhas caem e as árvores não sofrem por causa disso. Elas acreditam na promessa do que virá, e, como elas, nós também podemos nos desfazer de coisas inúteis que vamos juntando e carregando pela estrada da vida, quase sem perceber.
Podemos caminhar mais leves, até que a chegada do inverno encontre a semente encolhida no seio da mãe terra,aparentemente solitária, mas na verdade recolhida na dormência do profundo, para armazenar mais força e explodir em flores e cores na primavera. Como nós, quando respeitamos os momentos de solidão que nossa alma clama e nos tornamos o que realmente somos.
Nós fazemos parte dessa sinfonia viva que atua silenciosa e nos inspira respeitar os ciclos da nossa própria natureza. Vamos nos abrir para essa energia mágica que nos convida a sair dos comportamentos convencionais, para abrir novos caminhos e criar pontes para o divino.
Não, você não é um fragmento, você é parte do todo, você está em harmonia com tudo o que é vivo no planeta e sua verdadeira natureza está unida à natureza de Deus.
Deixe a primavera fazer festa no seu coração!!!
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