Sônia Rosa Maia, 50emais
Esta semana, a estilista e figurinista Bibi Fragelli começa a produção da primeira leva do #CasuloPraRua, junto com a ONG Alinha, “que conecta estilistas a oficinas, e pratica relações justas de trabalho com suas costureiras e costureiros”, como conta Bibi. “Até agora, eu mesma costurei os casulos pilotos”.
Mas o que é o #CasuloPraRua, que tem reunido profissionais de diversas áreas em torno desse projeto? Em meados de abril, Bibi Fragelli contou, em suas redes sociais, sobre sua vontade de fazer algo pela população vivendo em situação de rua. “Eu me via deitando numa cama quentinha, debaixo de um teto seguro, pensando nas pessoas dormindo nas calçadas, embaixo dos viadutos, e tudo isso mexia muito comigo. Há tempos vinha pensando o que eu poderia fazer…”
Até que um dia Bibi acordou decidida a colocar seu talento a serviço dessas cidadãs e cidadãos. Assim nasceu o ((casulo)), um saco de dormir especialmente desenhado e pensado para quem vive em situação de rua – quente, impermeável, leve, lavável, portátil e com bolso interno para guardarem seus pertences. “Casais também podem juntar os seus e dormir juntinhos”, pensou também Bibi.
O ((casulo)) tem uma camada externa impermeável, uma interna acolchoada e bolso interno para guardar pertences. Tem altura de 1,80 cm por 1,50 cm de largura. E pode ser rapidamente dobrado, virando uma bolsa. O custo de cada casulo hoje é de R$ 148,00, um pouco maior que o pensado incialmente, de R$ 80,00. “Conforme fomos pesquisando e conversando com pessoas da área, vimos que ele podia ficar mais seguro, quentinho e macio, porém mais caro, com a introdução de uma tela de espuma não inflamável dentro da peça”.
Bibi também tem recebido lindas ilustrações e desenhos, especialmente para o projeto, enviados por artistas como as Annette Schwartsman, Caetano Patta e Monique Deheinzelin, que podem ser impressos no ((casulo)), o que torna o projeto ainda mais especial por unir beleza, respeito, qualidade, abraço e acolhimento para uma população que convive com o desprezo e mesmo violência do poder público.
O post inicial de Bibi nas suas redes sociais já mostrava dois casulos prontos e entregues para o casal Laisa e Jonathan, que ela conhece de seu bairro. “Desde então foi o movimento mais maravilhoso que já vivi. A Pati Curti estava comigo desde o início. Naquele mesmo dia, a Yvone Furtado, a Vagalulume, a Claire Castelano e o Renato Levi se juntaram a nós e começamos o projeto Casulo Pra Rua.
No começo da tarde, já tínhamos doações para comprar material para 10 pilotos/guia para costureiras, e também para apresentar a pessoas que trabalham com essa população, como o Padre Julio Lancellottti. Ele adorou a ideia, nos contando que desistiram de dar barracas, porque a Guarda Metropolitana confisca, mas não podem pegar em bolsas”, relata Bibi.
O projeto foi idealizado, também, para ser replicado por pessoas e comunidades dispostas a produzir os casulos. Junto com a Ovo, empresa de design de móvies, está sendo desenvolvida uma a cartilha com todos os detalhes e instruções de como produzir o ((casulo)), incluindo moldes. “Vamos mandar em formato PDF, por email, para quem nos procurar, e divulgar a disponibilidade do guia nas mídias sociais. A única coisa que pedimos é que usem exatamente os materiais que escolhemos e que paguem bem as costureiras. E mandem fotos das pessoas fazendo e recebendo o ((casulo))”.
“O frio chegou e as pessoas estão perguntando quando eles serão entregues. Já temos dinheiro pra mais de 300 casulos!!! Choro ao escrever isso. Esta semana começamos a produção de 50 peças e assim que elas saírem, produziremos 250 e tomara que a gente não pare mais. Muito obrigada a todo mundo que compartilhou, doou, se ofereceu pra ajudar na logística de produção e na distribuição. Vejo uma rede linda de casulos se formando”, postou Bibi sobre esta linda e criativa história de ação e solidariedade.
Quem quiser contribuir financeiramente, é só mandar email para casuloprarua@gmail.com com assunto: “Quero Contribuir”, para receber os detalhes. E quem quiser somar, chega mais via este mesmo email.
Para ver melhor como o casulo funciona, clique no vídeo:
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