Miriam Moura
50emais
No texto de apresentação da minha coluna aqui no “50emais” falei sobre a minha relação com a arte, de proximidade e paixão crescente. Ao abordar o tema, espero incentivar mais pessoas a conhecer a força renovadora de “vivenciar arte” e se beneficiar desse experimento transformador. Segundo o Houaiss, a acepção filosófica de experiência é “qualquer conhecimento obtido por meio dos sentidos”.
Na coluna de hoje também vou dar algumas dicas para potencializar o processo de estimular os sentidos com a arte. Uma maneira que funciona bem é a de se conferir mais de uma vez o mesmo trabalho de arte – seja pintura, escultura, gravura, aquarela ou outras técnicas.
Vou exemplificar melhor. Ao visitar uma exposição de arte, comece a percorrer as salas com olhar e julgamento desprovidos de ideias preconcebidas. Faça de conta que você está começando a estudar um novo idioma: aumente a acuidade sensorial, jogue-se inteiro na experiência visual.
Ao entrar em um museu para visitar uma exposição de arte faça um passeio com o olhar. Dirija-se primeiro à obra que mais lhe despertar a atenção. Ao fixar o olhar, analise os detalhes e mensagens perceptíveis. Depois leia o título da obra (normalmente ao lado direito da peça, na parede) e volte a fixar a obra. Novas mensagens e sinais vão surgir: você energizará seu espírito e enriquecerá impressões.
Ao longo dos anos fui ganhando experiência e formatando uma metodologia própria para aproveitar ao máximo as sensações impressionantes que obras de arte podem proporcionar. Frequentei cursos livres de arte para aprofundar conhecimento que me ajudaram a usufruir arte melhor.
Certa vez, passei uma semana em Nova York com uma amiga também apreciadora de arte. Foram 30 horas de maratonas em museus que são templos lendários como o Metropolitan, o MOMA, o Guggenheim e diversas galerias icônicas. No meu sabático em Londres era habitué das visitas guiadas da National Gallery, da Tate Modern e do Victoria and Albert Museum, entre outros.
O crítico de arte americano Johathan Crary estuda as diferentes formas pelas quais o observador de arte se identifica e é identificado. Ele distingue duas formas de observar um quadro. A primeira, que predominou a partir do século XV, é modelada segundo o esquema da câmara escura e leva o observador a se isentar do que é visto. A segunda, que emerge a partir do século XIX, é influenciada pelas novas teorias sobre a luz e as novas técnicas de construção da imagem, demanda um observador participante, que se entrega de corpo e alma ao processo do olhar.
O filósofo alemão Emanuel Kant mostrou que uma bela obra de arte nasce de uma capacidade de invenção fora do alcance do comum dos mortais. José Arthur Giannotti diz que o filósofo esqueceu de notar que essa liberdade do gênio só pode ser exercida em terreno já demarcado por regras práticas.
O crítico de arte italiano, historiador e ex-prefeito de Roma Giulio Carlo Argan descreve no seu livro clássico “Arte Moderna” sobre o pitoresco e o sublime: “Dizer que uma coisa é bela é um juízo, a coisa não é bela em si, mas no juízo que a define como tal”.
Simon Schama, escritor britânico e professor de História da Arte inicia o livro “O poder da arte” dizendo que “a grande arte tem péssimos modos”. Ele lembra duas afirmações de Picasso: 1) “a arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade” e 2) “a arte é perigosa; sim, ela nunca pode ser casta; se é casta, não é arte”.
Ao reproduzir na coluna “O melhor da vida” algumas reflexões, ideias e estudos sobre arte a minha intenção é incentivar o “consumo” da arte e o exercício de contemplação de um trabalho artístico. É um chamamento duplo para energizar e encantar o espírito. Como ensinou o filósofo J.A.Giannotti, ao escutar as “vozes do silêncio” e entender o “jogo” próprio da pintura de arte é possível se chegar à descobertas próprias e irredutíveis.
Leia também da autora: Viajar é criar momentos de vida
Linkedin: LinkedIn.com/miriam-moura-025b5176