Márcia Lage
50emais
Três dias de Rock pesado, de comida indigesta e de gente esquisita, vestida de preto, fazendo barulho com suas super motocicletas.
E não era ruim. Ao contrário: reduziu minha frustração de não ter ido ao festival de Woodstock.
Queria muito ter ido, se não tivesse apenas 14 anos de idade quando ele aconteceu e eu morasse há mais de 7 mil km do local do evento.
A bem da verdade, só fiquei sabendo do festival quando já estava na Faculdade e me disseram que eu lembrava muito a Janis Joplin, uma das estrelas do evento.
Havia colegas que ouviam o dia inteiro a trilha do acontecimento musical – realizado na pequena cidade de Bethel, no estado e Nova York, nos Estados Unidos, em agosto de 1969 – que mudou para sempre a cabeça da juventude dos anos 70.
Passei a gostar muito de Rock desde então. Porém, nunca fui motociclista e até associava essa tribo àquela que andou fazendo motociata em favor de certo equívoco político que o tempo está se encarregando de esclarecer.
Enquanto dançava ao som dos Jimi Hendrix que norteiam essas festas de motociclistas pelo interior do país, fui conversando com casais que estão na estrada desde a juventude.
Hoje, são alegres pessoas de longos cabelos brancos e uma fidelidade absoluta ao ideal hippie de paz, amor e rock. Não levantam outra bandeira.
Há muitos homens solitários também, que abraçaram a causa depois de velhos.
Conheci um que teve um câncer no estômago aos 60 anos e se curou. O câncer era daqueles que as contrariedades da vida provocam.
O médico lhe disse para se desfazer de tudo que o chateava. Senão duraria muito pouco, com ou sem tratamento.
O que azedava o estômago do agora Lobo Solitário das Estradas era um casamento morto e filhos adultos folgados, que sugavam seu sangue com demandas que já eram capazes de executar.
Ele botou um fim nas relações abusivas, pediu a aposentadoria e o divórcio.
Dividiu os bens com a família. Com o que lhe coube, comprou uma linda Harley-Davidson e acelerou ruidosamente para a liberdade.
Encontrou pelo caminho uma tribo amiga, solidária, alegre e pacífica, que corre o Brasil em busca de aventuras, participa de competições, toma cerveja artesanal e come torresmo em milhares de eventos que têm o Rock como trilha sonora e o vento na cara como desafio.
Já se foram oito anos da mudança radical que ele fez na vida. Até o presente, só acumula felicidade.
Os filhos tomaram rumo, lhe deram netos, a relação com eles e com a ex é cordial e civilizada. Cada qual na sua trilha.
Sobre o câncer, nunca mais teve sequer uma dor de estômago.