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Embora haja problemas reais para testar medicamentos em pessoas mais velhas, como o fato de tomarem remédios e poderem até morrer durante os ensaios, especialistas criticam a decisão dos grandes laboratórios de praticamente excluírem idosos dos testes de novos remédios.
O resultado dessa exclusão, explica especialista ouvida neste artigo, “é que médicos prescrevem (para idosos) sem ter a informação correta: a eficácia pode ser menor e, os efeitos colaterais, maiores do que os relatados nos estudos”.
E como essa situação pode ser mudada? Segundo outro especialista: “É preciso conscientizar pacientes, médicos e a indústria farmacêutica sobre a necessidade de ampliar a participação – quanto mais gente melhor.”
Leia o artigo completo de Mariza Tavares, do blog Longevidade: Modo de Usar, publicado por O Globo:
No dia 13, assisti a seminário da Sociedade Britânica de Gerontologia cujo tema era a sub-representação de idosos em ensaios clínicos, que são os estudos que avaliam se um medicamento pode ser utilizado por seres humanos. Para entender a polêmica, basta dizer que, apesar de a demência ser uma doença prevalente entre os mais velhos, os testes com drogas para a enfermidade excluem pacientes com dificuldades cognitivas severas. No caso do câncer, somente 1.5% das pesquisas conduzidas nessa área mira os acima de 60 anos. Como ressaltou o médico Declan Doogan, quando esse grupo é descartado, está criada uma distorção:
“Os ensaios clínicos têm, como objetivo, garantir a eficácia e segurança de uma nova droga da indústria farmacêutica. Se são feitos com pessoas mais jovens e saudáveis, a eficácia pode ser atingida, mas o mesmo não se pode dizer sobre a segurança, porque os idosos, além de terem características fisiológicas próprias, metabolizam e respondem ao medicamento de forma diferente”.Emma Harvey, vice-presidente da Faculdade de Medicina Farmacêutica do Reino Unido, traçou um panorama sobre os desafios de incluir idosos nos ensaios clínicos. Explicou que os testes são realizados com um conjunto relativamente homogêneo, com poucas variáveis. Já indivíduos mais velhos apresentam um quadro de comorbidades e também utilizam diversos medicamentos. Há, inclusive, o risco de o paciente morrer durante a pesquisa, ainda que o óbito não tenha sido em decorrência da droga. No entanto, critica:
“Nos Estados Unidos, por exemplo, idosos consomem 35% da medicação prescrita. Doenças como acidente vascular cerebral ou demência são prevalentes entre os velhos e usar os dados sobre uma droga testada numa população mais jovem pode não ser apropriado. O resultado é que médicos prescrevem sem ter a informação correta: a eficácia pode ser menor e, os efeitos colaterais, maiores do que os relatados nos estudos”.
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“É preciso conscientizar pacientes, médicos e a indústria farmacêutica sobre a necessidade de ampliar a participação – quanto mais gente, melhor. Também temos que investir na representatividade e apoiar os pesquisadores para alcançar um nível de inclusão que contemple mulheres, crianças e idosos. Outra questão da maior relevância é dar atenção à experiência dos indivíduos que estão no processo”.
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