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Nesta longa entrevista concedida a Janaína Figueiredo, de O Globo, Isabel Allende, que completa 82 anos em agosto, fala muito da vida, do amor, de sexo na idade madura e da morte. A escritora chilena, autora de A Casa dos Espíritos, Paula e de tantos outros sucessos literários, casou-se pela terceira vez, quando já passava dos 74 anos.
“Hoje, sinto que o amor é o mesmo de quando era jovem, mas com um sentido de urgência. Não temos tempo para briguinhas, ciúmes. Resolvemos as coisas na hora. Tudo no amor é mais imediato” – conta ela, que é a autora latino-americana que mais vendeu livros de todos os tempos.
Casada há três anos com um advogado americano, que começou a lhe fazer a corte pela interrnet, Isabel relata um episódio engraçado. Quando levou o novo namorado para a mãe (personagem de seu último livro, Violeta) conhecer, o comentário da mãe foi: “Este pobre homem vai sofrer muito”.
Leia a entrevista:
Ela aparece na tela do computador com um sorriso leve, um olhar pacificado e a disposição para falar sobre qualquer assunto e rir de si mesma — até mesmo de sua capacidade de vestir uma calça sem precisar se apoiar na parede.
Aos 80 (há anos gosta de dizer que tem 80, embora os faça mês que vem), Isabel Allende, a escritora latino-americana que mais livros vendeu na História, continua sendo uma mulher de vanguarda. Depois de dois casamentos de 29 e 28 anos, separou-se do segundo marido e, um ano e meio depois, aceitou o insistente pedido de Roger, um advogado americano que todos os dias acorda ao seu lado e diz, ela conta com orgulho, sentir-se feliz “como uma criança que irá ao circo”.
O casamento está prestes a completar três anos, e hoje a única preocupação de Isabel é o que Roger fará após aposentar-se, em breve. Parar não é uma opção para ela, que acusa o feminismo de ter abandonado mulheres acima dos 50. “Falamos sobre as mulheres até a menopausa, é como se desaparecessem”, alfineta Isabel, que depois da segunda separação começou a fazer exercício todos os dias e garante poder subir uma escada correndo e ter um preparo físico melhor do que tinha há 15 anos.
O sexo, confessa, continua sendo importante em sua vida. “O amor é o mesmo de quando era jovem, mas com sentido de urgência. Não temos tempo para briguinhas, ciúmes, temos de resolver as coisas na hora”, afirma a escritora, que mora numa pequena casa de apenas um quarto em São Francisco, nos Estados Unidos.
Praticar o desapego é mais uma de suas recomendações para envelhecer bem. Outra, essencial, é ter um propósito. As mulheres invisíveis para grande parte da sociedade, frisa Isabel, têm algo que as mais jovens não tem: experiência.
A senhora voltou a se casar depois dos 70 anos. Como foi essa experiência?
Eu me separei, pela primeira vez, aos 45 anos. Poucos meses depois, conheci Willy, meu segundo marido. Fiquei 28 anos casada com ele, e com o primeiro foram 29 anos. Aos 74, eu me separei de Willy, e as pessoas me perguntavam como podia me separar com essa idade, depois de tudo o que tinha investido na vida com ele.
Diziam que era preciso ter muita coragem para se separar aos 74 anos. A decisão foi minha, e vou lhe dizer que é preciso mais coragem para ficar numa relação que não funciona do que para tomar a decisão de estar sozinha. Mas decidi estar sozinha. Comprei uma casa pequena, que tem apenas um quarto, e me mudei com minha cachorrinha.
Um ano e meio mais tarde, um homem, que tinha ouvido uma entrevista minha no rádio, me escreveu. Ele continuou escrevendo nos cinco meses seguintes. Minha assistente começou a investigar quem ele era. Sabíamos até a placa de seu carro. Ela preparou uma ficha com todos os dados de Roger e disse que era um advogado com escritório na Park Avenue, em Nova York, e viúvo. Ela até achou uma foto da casa dele! (risos).
Roger não está nas redes sociais, mas hoje você consegue informação sobre qualquer pessoa. Tive uma viagem a trabalho para Nova York e decidi que queria conhecê-lo. Tivemos um encontro e, três dias depois, ele me pediu em casamento. Até anel ele tinha. Pensei que estava louco ou muito necessitado. Respondi que se estivesse disposto a ir até a Califórnia um fim de semana, poderíamos ser amantes, mas casamento nem pensar.