Maya Santana, 50emais
É muito importante prestar atenção em como os japoneses estão lidando com o fato de ter uma população mais envelhecida do que outros países. O Japão é o país com a maior proporção da população acima de 65 anos. São milhares as pessoas que já passaram dos 100 anos. Como estão na frente em termos de medidas para lidar com essa população idosa, talvez possamos aprender alguma coisa com eles.
A questão do envelhecimento lá é tão séria que o governo está estimulando as pessoas a trabalharem até mais tarde e está pensando até em dar algum incentivo aos trabalhadores com mais de 70 anos. É uma mostra do que vai acontecer com o mundo e, claro, com o Brasil. É questão de tempo. E não vai levar muito, pois estamos envelhecendo rapidamente.
Leia a matéria da Bloomberg News, publicada por O Globo:
Após ser demitida aos 75 anos, Mikiko Kuzuno foi se candidatar a uma vaga numa fábrica de toalhas, nos arredores de Tóquio. Ela fez questão de se apresentar pessoalmente.
— Pedi que dessem uma boa olhada em mim — disse ela. — Queria mostrar o quanto sou saudável.
Com 78 anos, Kuzuno está há três anos trabalhando na pequena fábrica em Warabi, onde ajuda a lavar e empacotar toalhas de mão fornecidas a clientes em restaurantes. É uma tarefa árdua, que exige ficar em pé durante três horas seguidas, mas ela não pensa em se aposentar — em parte por razões financeiras e, por outro lado, porque detesta ficar sem fazer nada em casa.
Este perfil deve ser tornar o “novo normal”, com mais septuagenários trabalhando no Japão e reforçando sua imagem de país dos workaholics (viciados em trabalho) . Com a população local envelhecendo no ritmo mais acelerado do planeta, o primeiro-ministro Shinzo Abe quer ver os idosos trabalhando por mais tempo.
População deve cair 30% até 2060
O envelhecimento da população do Japão elevou os gastos com aposentadorias, que responderam por cerca de 30% das despesas do governo no último ano fiscal.
Abe quer mudar a legislação, para incentivar as empresas a abolirem a idade compulsória para a aposentadoria e adotarem outras medidas para manter seus funcionários trabalhando após os 70 anos. O governo também estuda um modelo para criar incentivos aos trabalhadores que, assim, teriam um retorno maior se adiassem a aposentadoria para os 75 anos.
O Japão é o país com a maior proporção da população acima de 65 anos. A expectativa de vida, de 84 anos, empata com a da Suíça como a maior do mundo, segundo dados do Banco Mundial.
Com uma taxa de natalidade em declínio, a população do Japão deverá cair quase 30% até 2060, período em que cerca de 40% dos cidadãos terão 65 anos ou mais, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa sobre População e Previdência Social.
— Precisamos adequar a estrutura da nossa economia e da nossa sociedade para nos adequarmos à realidade de uma vida de 100 anos ou mais —, disse Shinjiro Koizumi, de 38 anos, parlamentar que lidera um comitê sobre envelhecimento do Partido Liberal Democrata.
Incentivo para aposentadoria tardia
Convencer as pessoas a trabalharem alguns anos a mais pode ser difícil. Uma pesquisa publicada pelo gabinete do governo em janeiro mostrou que cerca de 38% dos japoneses querem trabalhar além dos 65 anos, enquanto mais de 50% preferem se aposentar antes dessa idade.
Os empregos que o Japão precisa mais preencher estão em atividades de trabalho intensivo, como construção, cuidados de enfermagem e serviços de entrega. Ou seja, não são os empregos tipicamente associados aos trabalhadores mais velhos. As áreas rurais com o maior percentual de residentes com 65 anos ou mais também têm poucos empregos adequados à força de trabalho que envelhece.
Aos 72 anos, Atsushi Morishita, fundador e presidente da Tempos Holdings, que administra uma rede de 58 lojas de equipamentos de cozinha comercial, vem abrindo as portas para os trabalhadores mais velhos. Ele conta ter se inspirado no seu pai, que trabalhou em uma fazenda até depois de 90 anos.
— Em Tóquio, assim que as pessoas completam 65 anos, perdem tempo jogando críquete ou algo assim. Então eu pensei em oferecer um lugar para elas trabalharem — disse Morishita.
Cerca de um quarto de sua força de trabalho tem 60 anos ou mais. O empresário afirma que é preciso entender que os trabalhadores mais velhos normalmente têm menor produtividade, de modo que os salários precisam ser administrados de acordo com a produção, diz o empresário:
— Em lugares como a Toyota, exige-se uma alta produtividade. Então, eu não acho que eles poderiam fazer isso. Mas em uma empresa mais flexível como a nossa, tudo bem.
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