Márcia Lage
50emais
Em pleno Dia Internacional dos Direitos da Mulher (a palavra direitos foi suprimida da data, que se tornou comercial, festiva e de desagravo a tudo que as mulheres vêm sofrendo ao longo de séculos), recebi um vídeo que me impactou bastante.
O Silêncio dos Homens é o título de um documentário produzido por várias organizações e profissionais que já se deram conta que, se a masculinidade é toxica, é preciso tratá-la, para que se interrompa o crescente avanço da violência contra as mulheres, contra as crianças e contra os homens, eles mesmos as maiores vítimas dessa visão equivocada do papel masculino.
Com a luta feminina por direitos e reconhecimentos, esse macho criado para mandar, prover e perpetuar sua posição de chefe inconteste no mundo patriarcal está ficando cada vez mais emparedado. E reage como aprendeu a reagir: com agressividade.
Os homens que têm coragem de se abrir para essas abordagens terapêuticas descobrem como é cansativo e perigoso manter esse papel, ainda mais porque não há retorno para as conquistas femininas (precisa é de muito mais avanço) e as questões de gênero se ampliaram com a comunidade LGBT+. O modelo alfa caiu em desuso.
É um troglodita das cavernas numa sociedade que rejeita suas ideias ultrapassadas e anseia por paz e igualdade.
Esses homens vivem menos do que as mulheres, têm mais vícios, mais depressão, cometem mais crimes, lotam as cadeias, suicidam mais, enfim, vão da posição de líderes, com a qual sonham, para a de párias da sociedade, atrasando a marcha da humanidade.
Ao assistir, descobri em mim resquícios dessa construção machista de defesa, desconfiança, agressão e violência. Ou seja: nossa parte masculina também é tóxica.
Com depoimentos de homens transformados pelas abordagens desses grupos de apoio, o documentário ensina como multiplicar as vivências nas escolas, nos bairros, nas igrejas, em qualquer lugar onde a selvageria precisa ser identificada, trabalhada e transformada.
É uma proposta de unificação do feminino e do masculino que existem em todos nós, independentemente da diversidade de gêneros até agora identificados – 31, segundo a Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Esse macho-alfa agressor que pode emergir perigosamente nas pessoas em posição de poder, não tem que ser sufocado. Mas entendido, pacificado, auto-dominado.
Para que a civilidade prevaleça e reduza os números absurdos da violência contra as mulheres, contra as crianças e contra os próprios homens.
Veja o documentário:
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