Numa excelente entrevista concedida já há algum tempo, Dra. Carmita Abdo, uma das maiores especialistas do Brasil em sexualidade, diz que o maior problema para o homem, depois de certa idade, é a dificuldade de ereção. Já para a mulher, é a perda da libido. Neste artigo, os autores afirmam que, alguma forma de disfunção sexual, antes chamada de impotência sexual, pode afetar cerca de metade dos homens adultos. No caso da mulher, “a diminuição hormonal pode alterar a intensidade do desejo e para pessoas que nunca tiveram uma vida sexual plena e prazerosa, pode significar a estagnação do sexo precocemente.”
Leia o artigo escrito por Janaina Batista Gonzalez Reis e Maria Alice Fontes, do site plenamente.com.br
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno relativamente recente que tem motivado progressivamente o desenvolvimento de estudos acerca dos diferentes aspectos que envolvem a velhice, incluindo a sexualidade.
Muita gente fica espantada com a ideia de que as pessoas permaneçam sexualmente ativas na terceira idade. Frequentemente se imagina que os idosos perdem seus desejos sexuais ou são fisicamente incapazes de realizar, mas preocupação em permanecer sexualmente ativos é um desafio que a ciência está driblando.
Quais são os principais problemas sexuais que enfrentam os homens durante o envelhecimento?
Durante o envelhecimento masculino, há uma queda progressiva da secreção de testosterona, favorecendo a ocorrência de disfunções sexuais, entre estas a diminuição da libido masculina, transtornos de ereção e alterações espermáticas. Alguma forma de disfunção sexual pode afetar cerca de metade dos homens adultos.
Alguns estudos demonstram que a disfunção erétil (DE) ocorre com mais frequência à medida que o indivíduo envelhece, porém não é uma consequência obrigatória do processo de envelhecimento. A disfunção erétil é frequentemente confundida com diminuição da libido ou com distúrbios da ejaculação e até mesmo com esterilidade masculina. Mas os mecanismos responsáveis pelo funcionamento de cada uma das funções mencionadas são completamente diferentes. A disfunção erétil, anteriormente chamada de impotência sexual, é a incapacidade persistente de obter e manter uma ereção suficiente para um desempenho sexual satisfatório.
Embora a disfunção erétil não apresente riscos à vida do indivíduo, pode provocar uma série de transtornos, como a diminuição da autoestima, aumento da ansiedade, comprometimento do relacionamento social e depressão, entre outros. Tais transtornos podem acabar causando repercussões no estado geral de saúde do paciente.
Quais as principais características da disfunção erétil?
A disfunção erétil é classificada em três categorias: primária, secundária e circunstancial ou situacional. A primária se dá quando o indivíduo nunca conseguiu ter uma ereção ou apresenta o problema desde o início de sua iniciação sexual. Para os indivíduos onde o problema surge em uma determinada época da vida, sendo que antes apresentava ereções consideradas normais, consideramos a disfunção como secundária. Já a disfunção circunstancial ou situacional, é aquela em que o indivíduo consegue uma ereção com uma(um) determinada(o) parceira(o) ou em determinada condição, enquanto que com outra pessoa ou em outra situação a ereção não é possível.
A disfunção erétil pode ter sua origem em causas psicológicas (psicogênicas) ou físicas (orgânicas), ainda que não seja incomum a ocorrência de origem mista. Quando desencadeada por fatores psicológicos, pode levar, eventualmente, a uma disfunção erétil física e/ou vice-versa. Alguns urologistas acreditam que, de um modo geral, a disfunção erétil seja ocasionada em 70% por problemas psicológicos e 30%, seriam decorrentes de problemas orgânicos.
Quais os tratamentos indicados para a disfunção erétil?
Caso a origem constatada da DE seja fisiológica, o tratamento da DE é centrado na utilização de drogas orais efetivas associadas ao aconselhamento especializado. Um médico especializado deve ser consultado para tratamento medicamento, evitando-se a automedicação devido ao risco de outros problemas de saúde.
Como boa parte dos casos de disfunção erétil tem origem psicológica ou psicogênica, e mesmo sabendo das mudanças fisiológicas que ocorrem nesse período da vida do homem, é importante o acompanhamento psicológico com terapeuta sexual no tratamento da disfunção erétil.
Como os estimulantes sexuais estão influenciando a vida sexual do casal no envelhecimento?
Embora os estimulantes sexuais estejam ajudando muitos homens a superar a disfunção erétil, um problema é reconhecer que eles também podem agora provocar uma mudança no equilíbrio sexual de um casal. Primeiramente as mulheres estavam se ajustando a abstinência sexual devido a uma disfunção do seu parceiro, agora o casal precisa mais uma vez se adaptar a volta da atividade sexual.
Isso cria um desafio. As mulheres mais velhas definitivamente precisam de tempo para os seus corpos possam se reajustar a uma parceria sexual. Infelizmente, se ele e sua parceira não tiveram relações sexuais durante um longo tempo, sua vagina possivelmente tenha se estreitado e atrofiado e não poderia acomodar imediatamente um pênis sem se arriscar a dor e/ou ferimentos. Isso pode levar a uma disfunção sexual feminina secundária como dispareunia (dor na relação sexual) ou vaginismo (contração involuntária da entrada da vagina que dificulta ou impede a penetração do pênis na relação sexual). Para mulheres pós-menopáusicas que foram sexualmente abstinentes há muito tempo, os parceiros não podem voltar ao funcionamento sexual instantaneamente.
Parece haver nítida relação dos sintomas psicológicos, capazes de afetar o exercício da sexualidade, com a carência estrogênica (diminuição do hormônio estrogênio) que se instala no envelhecimento feminino. Há cada vez mais evidências de que o funcionamento do cérebro é bastante influenciado pelos esteróides sexuais e de que a queda dos mesmos, com o envelhecimento, tanto no homem como na mulher, condiciona alterações importantes no humor, no comportamento e, sem dúvida, na sexualidade. Atualmente existem várias possibilidades de minimizar esses efeitos, sendo possível manter uma atividade sexual satisfatória e prazerosa.
Quais os desafios para a mulher manter-se sexualmente ativa nessa fase?
Com a menopausa, a mulher deixa de produzir o estrogênio e isso pode causar mudanças significativas em seu corpo e sua sexualidade, tais como: secura vaginal, a lubrificação natural diminui, a mucosa da vagina se torna mais fina, o que costuma causar desconforto durante a penetração, o desejo sexual pode diminuir, alterações de humor também podem ocorrer, menor elasticidade da pele, insônia, entre outras.
A diminuição hormonal pode alterar a intensidade do desejo e para pessoas que nunca tiveram uma vida sexual plena e prazerosa, pode significar a estagnação do sexo precocemente. Já aqueles que vivenciaram uma sexualidade prazerosa poderão buscar formas e maneiras de continuarem a vivenciar o prazer e a satisfação em suas relações.
A falta de lubrificação feminina, por exemplo, pode ser contornada com terapia hormonal. O tratamento aumenta a libido e proporciona uma melhora da região genital, mas deve ser acompanhado por um especialista.
Quais os impactos decorrentes da mudança do comportamento sexual no envelhecimento?
Um problema sério que deve ser levado muito em consideração é a aids. Devido a problemática do envelhecimento passar por uma questão cultural e de exclusão, há um grande desafio no enfrentamento da doença nesta faixa etária. O preconceito e a dificuldade para se estabelecerem medidas preventivas, especialmente no que se refere ao uso de preservativos, ainda são mais graves que nos outros segmentos populacionais. O problema principal está focalizado no tabu social relacionado ao sexo nessa idade, onde se imagina que não há vida sexual ativa.
Em praticamente todas as regiões do mundo o grupo etário mais acometido pela aids situa-se entre 25 e 44 anos; no entanto, o número de casos em indivíduos com 60 anos ou mais vem apresentando um crescimento tanto em número absoluto quanto proporcional nos últimos anos, inclusive no Brasil. Segundo relatório anual da Unaids (agência da ONU), divulgado recentemente, o Brasil registrou aumento de 11% do número de infecções por HIV de 2005 a 2013, enquanto no mundo houve uma queda de 27,6% nesse mesmo período.
Ao se considerar a transmissão do HIV entre a população idosa, destacam-se questões culturais, como a baixa percepção sobre o risco, o próprio idoso se vê como uma pessoa afastada da exposição ao vírus, não praticando sexo seguro. Além disso, importantes fatores biológicos corroboram com a expansão da epidemia nesse segmento, dentre os quais a diminuição da imunidade com a progressão da idade, mudanças vaginais pós-menopausa e a maior possibilidade de contrair outras doenças de transmissão sexual pela maior vulnerabilidade biológica e social desse grupo etário.
Diante de toda a transformação que ocorre na terceira idade, quais as recomendações para buscar equilíbrio e vida sexual saudável?
Por fim, para garantir uma vida sexual rica e sadia na terceira idade é fundamental que o idoso não deixe de conversar com o geriatra sobre suas dúvidas e frustrações. Quase todas as dificuldades de ordem física podem ser resolvidas com o tratamento adequado, seja por meio de remédios, de acompanhamento psicológico ou da combinação de ambos.