Marlene Damico Lamarco*
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Olhei para minha vida e percebi que muitas coisas mudaram de sentido e adquiriram um novo significado. Tomei consciência de algumas visões ou decisões, muitas vezes tão diferentes das que habitaram meu imaginário por anos a fio, que até pensei estar equivocada.
Os valores vão se modificando… a casa ficou grande demais, muita área, muitos móveis, muitas peças e o tempo disponível para cuidar disso tudo parece que diminuiu. Na verdade, o tempo é o mesmo, mas diminuiu o desejo de cuidar de coisas e aumentou o desejo de cuidar de mim.
Aquele projeto que eu pensava que queria, joguei no lixo. Aquele que eu tinha medo de querer, coloquei na pauta, virou razão de vida. Cansei dos traumas de infância e das agendas que organizam tudo e desorganizam o essencial. A viagem está muito interessante e eu não quero perder nada, nem me desperdiçar com coisas que me afastem de mim mesma ou daqueles que amo.
Estou em novo treinamento, sou uma pessoa meio provisória: não sou mais aquela que eu era e ainda não sou aquela em que me transformarei, mas estou adorando o processo. Um exercício de liberdade que poucas vezes tive coragem de reconhecer… e de por em prática.
Não quero mais teorias, quero o exercício da vida, olhar para cada cantinho do coração, e da mente, e ver se aquilo deve continuar vivo ou se deve morrer. Dizem que a felicidade tem a ver com vida longa e memória curta. Nisso estou 10, ando me esquecendo de uma porção de coisas… e tenho alma longeva.
Se eu esqueci, não era importante. Lembra quando a gente falava isso ainda criança? O corpo trabalha a nosso favor e tem uma sabedoria própria, se ele esqueceu, é pra deixar ir. Parar com a contabilidade maluca dos deveres, dos “tenho que”, das ações que esperam de mim… Aliás, vou parar com qualquer lançamento, chega de débitos, créditos, julgamentos, autocomiseração e críticas. Vou rasgar o Livro Caixa e vou me ocupar de coisa mais importante.
E o que é importante? A alma sabe a resposta: anistia geral para todas as mágoas, angustias, cobranças e obrigações. Vou me dedicar a isso, anistiar primeiramente eu mesma, depois os que estão ao meu lado.
A partir de agora, anistia geral!!!
A estrada percorrida é muito mais longa do que a estrada que está por vir. Por isso o tempo passou a ser a minha maior riqueza, o perdão, a melhor borracha e o olhar… ah o olhar agora está aprendendo a jogar fora as observações de crítica e julgamento para se fazer cada vez mais compassivo e apaixonado.
Quero a presença do silêncio, da música, da natureza, da luz, do pasmo diante das coisas mais simples e do compartilhar com profundo respeito as buscas pessoais e o amor pelas pessoas. Quero o mapa do tesouro sim, mas não quero rotas traçadas nem sonhos de vitrine. Quero os sonhos que ainda moram dentro de mim… e aqueles que ainda vão nascer.
*Marlene Damico Lamarco é pedagoga, trabalhou como executiva por 25 anos e na busca pela cura de um estresse motivado por excesso de trabalho, encontrou no caminho espiritual uma nova maneira de viver. Deixou a área corporativa e por 16 anos se dedicou a expandir e a compartilhar suas descobertas à frente de uma ONG ligada ao autoconhecimento,
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