Maya Santana, 50emais
É uma nova velhice. Não dá para fazer comparação com outras gerações do passado. A sessentona de hoje não guarda nenhuma semelhança com as de antes que, nessa fase da vida, já eram consideradas muito velhas. E havia aquela coisa de esconder a todo custo a idade. Era um segredo dentro de um cofre cuja chave era jogada fora. Eu sei que muitas mulheres ainda não gostam de revelar a idade. Mas isso vai ficando para trás. “Eu ostento a minha idade. Não tenho 20 anos. Não quero ter 20 anos, mas na realidade eu me sinto maravilhosa” – diz Lin Slater, professora universitária, que se tornou modelo das mais requisitadas depois dos 60 anos. Como ela, há muitas outras. Encaram o avançar dos anos sem negativismo. Ao contrário, aproveitam essa etapa da existência para curtir o melhor que vem com a idade: a liberdade. Vestem-se da maneira que bem entendem. E fazem o que querem.
Leia o artigo publicado pelo Estadão:
Fotografada na pose de uma jovem modelo exibindo seu vestido estilo jardineira e os jeans esfiapados da moda, Lyn Slater projeta um ar de superioridade. Professora da Graduate School of Social Service da Fordham University em Nova York, ela também se apresenta como modelo hiper chique e como blogueira, e é conhecida por um público bem maior como uma referência do Instagram.
Certamente, ela tem 64 anos, uma época da vida em que algumas mulheres da sua idade se sentem pressionadas a fechar a butique. Mas não é o caso de Lyn Slater.
“Eu ostento a minha idade”, ela disse. “Não tenho 20 anos. Não quero ter 20 anos, mas na realidade eu me sinto maravilhosa”.
Sua voz sonora é apenas uma em um coro de mulheres suas contemporâneas que pensam como ela, mulheres de seus 70, 80 anos, que estão encarando as questões da idade com audácia e um estilo extremamente interessante, que provavelmente suas mães invejariam.
Casadas ou solteiras, trabalhando ou não, e mais frequentemente já avós, elas afirmam sua presença no Instagram, procurando subverter conceitos decrépitos a respeito das pessoas que parecem e se sentem “velhas”.
“Estas mulheres são embaixadoras da idade”, disse Ari Seth Cohen, o criador de Advanced Style, um blog muito seguido conhecido, autor de dois livros e de um filme que documenta, segundo as suas palavras, “a moda e a sabedoria da terceira idade”. As pessoas que ele analisa, observou, refletem e contribuem ao mesmo tempo para uma mudança gradativa da percepção comum do envelhecimento.
“Nossa visão coletiva do que seja a vida na fase mais madura continua lamentavelmente ultrapassada”, escreveu Marie Stafford, a diretora europeia do JWT Innovation Group, na introdução a uma pesquisa de J. Walter Thomson, de 2018, com mulheres dos 55 aos 72 anos na Inglaterra.
Jenny Kee, uma artista e criadora de moda de tricô australiana de 71 anos, disse: “Nós não vamos ser as velhinhas que ficam sentadas em uma clínica de repouso com os cabelinhos tingidos de azul. Ou se tivermos de ficar em uma clínica de repouso, estaremos lá com a nossa maconha, a nossa comida saudável e o nosso imenso sentido de estilo”.
Dorrie Jacobson, uma ex-coelhinha da playboy de 83 anos, chamou a atenção no ano passado quando começou a exibir lingerie de renda preta em sua conta Senior Style Bible do Instagram. “Use aquilo de que você gosta,” ela disse. “O que é apropriado para a idade não tem nada a ver com isso”.
Estilistas e anunciantes começaram a insistir em um conceito de inclusão que se estende não apenas à raça e à etnia, mas também à idade. Maye Musk, 70, desfila para a Concept Korea e está nas páginas da “Harper’s Bazaar”, Yasmin Le Bom, perto dos 60, é uma modelo de Armani; e aos 65, Isabella Rossellini voltou como o rosto da Lancôme, a marca de produtos de beleza que a deixara há 20 anos.
Kee uniu forças com a Romance Was Born, o nome de uma equipe de estilistas de mais de 30 anos. “Eu sou a sua guru e mentora”, ela afirmou.
E em sua conta, Silver Is the New Blonde, Jan Correll, 60, uma consultora de vendas de tecnologia, atraiu uma variedade de marcas, inclusive a J. Jill e Soma Intimates, uma linha de lingerie. “Os marqueteiros sabem que as mulheres da minha idade têm dinheiro para gastar”, ela disse.
Sarah-Jane Adams, 63, recorreu à Instagram para exibir as joias que ela vende. “Eu era punk”, ela disse, “e antes disso fui hippie. Agora, fundi as duas culturas. Faço parte da geração Germaine Greer. Mas no mundo da mídia social, e simplesmente faço parte do grupo dos que têm mais de 60”.
A privacidade é também uma preocupação. “Os homens estão sempre procurando se aproximar”, falou Correll, que foi casada por 43 anos e é avó de quatro. “Às vezes, isto me assusta. Estou constantemente apagando os posts deles”.
No entanto, o resultado é mais do que positivo na maioria das vezes. Postar no Instagram reforça a sensação de solidariedade que talvez faltou em outros momentos de suas vidas.
No Instagram, muitos seguidores de Slater têm idades que variam dos 25 aos 35 anos. “Os jovens não têm os preconceitos das pessoas mais velhas”, ela disse.
Kee atribui o entusiasmo das mulheres jovens a uma mentalidade do tipo ‘gostaria de ter estado lá’.
Entre suas defensoras, ela contou que está sua neta de 13 anos, fã de carteirinha do rock dos anos 60, principalmente dos Beatles. “Nós vivemos tempos extraordinários”, disse Kee referindo-se ao período da sua juventude.
“Eles nos invejam”, acrescentou.