Maya Santana, 50emais
Esta linda crônica, de Déa Januzzi para o jornal Estado de Minas, trata da mulher que serve de exemplo para todas nós, porque soube ser relevante e bela em todas as fases de sua vida. Jane Fonda completa 82 anos em dezembro. E está tão bem que, há pouco mais de três meses, foi capa da Vogue britânica, confirmando sua condição de simbolo do envelhecimento sadio e da longevidade ativa. Na crônica, a autora rememora o encontro que teve com Jane Fonda, em São Paulo, anos atrás.
Leia:
Ensina-me, Jane Fonda, a chegar aos 81 anos com a força e exuberância da eterna Barbarella. Com a capacidade de transformação de cada estação do ano, retirando os galhos secos, esperando florescer, mesmo que já esteja no terceiro ato da vida – denominação da própria atriz para o tempo de envelhecer. Para ela, o terceiro ato no teatro é o mais importante para entender os dois primeiros.
De terninho branco impecável, esguia e usando apenas discretos brincos, ela foi uma das convidadas especiais do 7º Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, em São Paulo, no Hotel Transamérica, em que as melhores reportagens sobre envelhecimento ativo são premiadas. O jornal Estado de Minas ganhou o primeiro lugar com o caderno especial do Bem Viver, sob o título “Envelhecemos!”.
A reportagem criou um cenário imaginário em 2050, ano em que as estatísticas apontam um maior número de pessoas velhas do que jovens. Estava lá para receber o prêmio e fiquei paralisada quando Jane Fonda entrou no palco. Naquele dia, Jane Fonda provocou uma catarse na minha vida.
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Não sei falar inglês, mas estive pertinho dela, senti a sua energia, o brilho nos olhos. Senti que, em algum lugar do mundo, tem alguém como Jane Fonda, que fala a mesma linguagem universal, que não precisa de tradutor.
Ensina-me, Jane Fonda, a dar a volta por cima nos piores momentos, para revelar segredos, como abusos sexuais, que sofreu aos 9 anos.
Ela disse ainda que a sua mãe, Frances Ford Seymour, também tinha sido abusada sexualmente e se matou por conta disso quando tinha apenas 12 anos. Ao passar os dois primeiros atos a limpo, ela perdoou a mãe e se perdoou. Vive em paz, ativa, mesmo depois de perder recentemente o melhor amigo e irmão, Peter Fonda.
Por que estou voltando a falar em Jane Fonda sete anos depois do prêmio? Ela é a musa inspiradora do envelhecimento ativo. Em maio deste ano, aos 81, a atriz, escritora e ativista política foi escolhida para estampar a capa de uma edição especial da Vogue britânica, a revista de moda mais influente de todas.
O editor da publicação é Edward Enninful, nascido em Gana, na África, o primeiro homem a ocupar o cargo, que teve sensibilidade para perceber que a revista, assim como tantas outras publicações, não abre espaço para mulheres com mais de 50. Resolveu mudar tudo. A prova é a edição especial, feita em parceria com a marca de cosméticos francesa L’Oreal, empresa para a qual Jane Fonda atua como uma espécie de embaixadora.
“Ver mulheres com mais de 50 anos nessa edição especial prova que a idade de uma pessoa será sempre um fator mais intrigante, com nuances inspiradoras, do que um simples número poderia sugerir”, disse o editor. A Vogue vem chamando a atenção também para a falta de mulheres maduras nas passarelas. E teve a ideia de escolher Jane Fonda para a capa da edição especial.
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Aos 81, a atriz continua ativa, trabalhando e agitando, como sempre fez. Apesar das plásticas, é uma mulher que chega muito bonita ao crepúsculo da vida. Talvez, o envelhecimento seja mais duro para quem sempre foi bonita, mas Jane Fonda mostra que há beleza em cada idade.
Trailer de um dos episódios da quinta temporada do super sucesso da Netflix Grace and Frankie:
Elogiada e admirada pela personagem que interpreta na série da Netflix Grace and Frankie – ela contracena com Lili Tomlin –, Jane Fonda sustenta uma visão otimista do envelhecimento:
“Gosto de estar no topo da colina, porque descobri que há uma paisagem totalmente nova. Gosto da idade. Fico feliz de ter vivido tanto tempo”, diz, chamando a atenção para o fenômeno mundial do envelhecimento, ainda ignorado por muitas empresas e instituições. “É importante entender que as mulheres mais velhas são as que mais crescem no mundo inteiro. É hora de reconhecerem nosso valor.”
Para dizer que acompanhei toda a série Grace and Frankie. E volto sempre a revê-la. Talvez, não tenha prestado a devida atenção em Jane Fonda mais jovem, mas quando a conheci, em 2012, em São Paulo, é que li parte do livro distribuído durante a entrega do prêmio, com o título Jane Fonda. O melhor momento. Aproveitando ao máximo toda a sua vida, quando ela faz uma análise dos três atos da vida. “Sinto que, nesta fase, estou me tornando quem eu deveria ter sido o tempo todo.”
Imperdível também é o filme Nossas noites, em que Jane Fonda, com o eterno parceiro de cinema Robert Redford, fala sobre a solidão das noites. Viúvos e vizinhos, eles estão sós na rotina da velhice, até que ela propõe de os dois dormirem juntos. Também vi muitas vezes o filme Se fôssemos morar todos juntos?, uma alternativa de moradia comunitária para a velhice de toda uma geração, que fez a revolução de comportamentos e hoje levanta a bandeira do envelhecimento saudável.
Veja o trailer de Nossas Noites:
Afinal, em apenas um século, houve o aumento de 34 anos na expectativa de vida. A revolução dos velhos surgiu a partir desse dado. Como aproveitar da melhor maneira esses anos a mais?
Ensina-me, Jane Fonda, a fazer essa revisão de vida, para compreender melhor o meu passado, abandonar padrões antigos, definir prioridades, cultivar novas metas e sonhos. Ensina-me, Jane Fonda, a viver esse novo tempo, em que o tsunami demográfico de velhos vem aí, mesmo num país que não vê as próprias rugas e os cabelos brancos.
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Ensina-me, Jane Fonda, a ser Senhora do Tempo, como você. A tocar a partitura desse terceiro e decisivo ato. Ensina-me, Jane Fonda, a preparar o palco para o tempo que me resta, ser protagonista da minha história!