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Essa é uma área em que a internet vem ajudando muito. A rede tem facilitado o encontro de pessoas mais velhas que estão a procura de alguém. Gente que passou dos 60 anos e quer namorar.
Já existe hoje um número enorme de sites especializados em unir casais como Sônia e Otacílio, que se conheceram online e acabaram se casando, como você vai ler neste artigo de Luana Reis*, publicado por O Globo.
Os casos de um final feliz para a busca de parceiro ou parceira através da internet têm se multiplicado, assim como as plataformas voltadas para quem quer encontrar um par.
Coroa Metade, Inner Circle e Happn são algumas delas e estão bombando.
Leia:
Há cerca de quatro anos, Sônia da Silva, de 65 anos, nem pensava em se relacionar. Morando em Sumaré, no interior de São Paulo, e viúva desde 2004, já não saía tanto e era difícil conhecer novas pessoas. Até que uma colega de trabalho sugeriu que ela desse uma chance para os sites de relacionamento para se distrair e, quem sabe, encontrar alguém.
A princípio contrariada, Sônia cedeu e resolveu experimentar. Em pouco mais de um ano, estava casada de novo, com Otacílio Diamante, que conheceu no site Coroa Metade.
— Quando eu era mais nova, eu tinha um tipo de lazer diferente. Frequentava praias, era fácil de encontrar pessoas. Mas quando a gente fica mais velho, o círculo de amizades fecha — conta ela. — Eu não frequentava bailes, nem festinhas, nem nada. Ainda bem que tem a internet, que faz a gente conhecer outras pessoas mesmo estando em casa. Isso facilitou muito.
Assim como Sônia, cada vez mais idosos estão buscando sites e aplicativos de relacionamento. O Coroa Metade, voltado especificamente para pessoas a partir de 40 anos, conta com cerca de 800 mil usuários cadastrados e mais de 250 mil ativos e, em dez anos, foi o ponto de partida para mais de cem casamentos.
No Inner Circle, outra plataforma para quem quer encontrar um par, cerca de 6 mil pessoas a partir dos 60 anos estão online. Já no Happn, usuários dessa faixa etária trocaram mais de 4 milhões de likes só neste ano no Brasil.
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A antropóloga Mirian Goldenberg, autora do livro “A Arte de Gozar: Amor, Sexo e Tesão na Maturidade”, explica que pelo fato de estarmos vivendo cada vez mais tempo, o papel social do idoso mudou na sociedade nos últimos anos. Os dados mais recentes do IBGE mostram que em 2021 a expectativa de vida ao nascer do brasileiro subiu para 77 anos.
— Estamos vivendo por mais tempo, temos menos filhos e desfrutamos de maior liberdade, principalmente as mulheres, que buscam aproveitar a vida com as amigas e não se limitar aos papéis de mãe ou avó — diz a antropóloga.
Diferentemente do que ocorria há algumas décadas, a terceira idade vivencia seus desejos de forma mais livre:
— As pessoas mais velhas desfrutam de uma vida prazerosa e livre, não ficam mais o tempo todo em casa, mostram-se ativas e têm relacionamentos amorosos. Há avós que estão namorando, usando aplicativos de relacionamento, tendo relações sexuais e utilizando vibradores, o que seria impensável antes.
Além da reprodução
Agora, muitas mulheres passam boa parte de suas vidas após a menopausa, o que desconstrói a ideia de que o sexo só deve servir para a reprodução, diz o ginecologista e professor da disciplina de Sexualidade Humana na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jorge Serapião.
— A vida sexual é prazerosa e contribui para o bem-estar e a saúde geral —explica o médico.
No entanto, ainda há um estigma social que as impede de viver a sua sexualidade, visto que a reprodução ainda é muito vista como único propósito da atividade sexual.
— Isso ocorre porque as culturas têm tradições e valores arraigados. No Brasil, temos uma cultura fortemente religiosa, baseada na família, na qual os idosos tinham o papel de cuidar dos netos e, muitas vezes, morriam novos — avalia Goldenberg. — Nossa sociedade está mudando rapidamente, mas, muitas vezes, os valores persistem.
Valmari Cristina, médica e diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), diz que os tabus em torno do sexo e dos relacionamentos na terceira idade acabam tendo um impacto negativo na vida das pessoas mais velhas, e afirma que a sexualidade deve ser abordada abertamente e de forma natural nesta fase da vida para desconstruir o estigma de que o sexo é exclusivo para pessoas mais novas.
— Existe a crença de que o envelhecimento torna as pessoas assexuadas, sem desejos ou capacidade física e emocional para ter relacionamentos. Isso cria dificuldades para que pessoas mais velhas lidem com suas vontades, fazendo com que se sintam indesejadas e fora dos padrões para uma vida sexual satisfatória — alerta. — Com a autoestima baixa, se torna um desafio procurar e estabelecer relacionamentos saudáveis.
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Os especialistas apontam que há fatores do processo natural de envelhecimento que podem afetar a libido de homens e mulheres, como o afinamento da parede vaginal, por exemplo, que tende a aumentar o desconforto no momento da penetração, a diminuição da produção de hormônios sexuais, o uso de certos medicamentos e o sedentarismo. Mas para grande parte dos problemas há tratamento e, mesmo que não haja uma solução específica, isso não deve impedir as pessoas mais velhas de se relacionarem.
— É importante combater estigmas e valorizar a diversidade de estímulos sexuais —diz Serapião. — A sexualidade deve ser vivida de forma plena, combatendo preconceitos e explorando diferentes formas de estimulação além da penetração vaginal.
Boa companhia
Morando no interior de São Paulo, distante da família, a professora Lilian Penteado, de 66 anos, também recorreu aos aplicativos para se distrair e conhecer pessoas novas. Para ela, é uma forma de abrir os horizontes:
— Não vou em balada e não tenho amigas solteiras da minha idade. Por isso procurei os sites.
A troca de mensagens é estimulante e mostra um possível caminho para que Lilian possa encontrar um parceiro para desfrutar a vida.
— Quando você recebe a resposta no aplicativo, você se entusiasma, é legal. Sou louca para arrumar alguém! Quero sair, passear, viajar. Quero uma companhia agradável e quero transar!
*Estagiária sob supervisão de Constança Tatsch
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