Ingo Ostrovsky
50emais
Por que será que a gente quer (precisa?) tanta informação?
Fico pensando se a vida não era mais sossegada antes de tudo isso acontecer. Tem uma estação de rádio só de notícias a tentar me convencer que tudo muda em 20 minutos. E eles tomam providências para garantir que mude mesmo. Três vezes por hora! Quem precisa disso?
Não faz muito tempo o jornal ficava pronto nas primeiras horas do dia e era publicado de manhã. E pronto. Em algumas praças havia o vespertino, um diário que circulava depois das três da tarde e trazia uma atualização do que acontecera durante o manhã. E no começo da noite havia um telejornal (ou radiojornal em algumas localidades) que resumia os fatos do dia. Todo mundo era feliz! No dia seguinte, logo cedo, começava tudo outra vez.
Durante um bom tempo ganhei a vida na Europa vendendo jornais diários depois da meia-noite. O jornaleiro da madrugada era um cara de prestígio, abria as portas de clubes exclusivos, entrava em ambientes caríssimos usando como cartão de visitas uma mercadoria que encantava a todos. Tinha gente esperando as notícias mas havia também quem almejava ser o primeiro a ler os quadrinhos. Sem esquecer os verdadeiros intelectuais, ávidos pelas palavras cruzadas. Informação e festa andavam de braços dados.
Naqueles anos os girassóis tinham tempo de girar em torno do sol. As rosas podiam abrir vagarosamente, ninguém ficava olhando o relógio. Os lírios tinham horas para encontrar o perfume certo e se davam ao luxo de escolher sem pressa as lapelas que enfeitariam. As bromélias bebiam lentamente, gota a gota, a água da chuva ou do regador. As amantes gastavam uma eternidade se vestindo e repetiam a dose na hora de se despir. A correria era inexistente. Havia surpresas no decorrer da vida. O amor selvagem se resumia ao embate entre a mão dele que procurava e a mão dela que a empurrava.
Uma pedra no caminho podia indicar que o governo ia cair ou que o poeta estava atento.
Eram as décadas em que Antonio Maria, jornalista, compositor e cronista, um homem longe se ser bonito e sempre apaixonado, pedia às mulheres que lhe dessem 15 minutos de conversa. Como repórter, teve a chance de uma exclusiva com Marilyn Monroe, mas decidiu poupá-la de conviver com sua feiúra e não foi à entrevista
Maria descreveu aquele tempo como ninguém ao lembrar a decadência de seus familiares, usineiros de açúcar em Pernambuco, onde nasceu. Os tios ricos de sua infância envelheceram sem pompa, engordaram feiamente, perderam o dinheiro e a doçura, levando ele, Maria, a deixar o Nordeste em busca de outra vida no Rio de Janeiro, a capital da República. Ele resumiu tudo numa frase: eu estava pronto para usufruir minha pobreza!
Quem dera ter uma cena dessas nestes dias de fake news, de notícias a cada segundo e de feroz polarização entre o feio e o mais feio.
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