Maya Santana, 50emais
Esse é um assunto chato. Ao mesmo tempo, muito comum. Por isso torna-se difícil não falar dele: o preconceito contra pessoas mais velhas. Mesmo com o número de velhos e velhas aumentando a olhos vistos, muita gente, principalmente mais jovem, trata o pessoal nessa faixa etária com um certo desdém, como se a gente, por não ter mais o vigor de antes, valesse menos que o restante dos mortais. Já fui vítima desse tratamento displicente, desse olhar enviesado, não sei quantas vezes. Em certas ocasiões, me irrita tanto, que reajo. Em outras, deixo passar. Nesse artigo de Mariza Tavares para o portal G1, ela dá dicas de como lutar contra o preconceito de quem ainda não percebeu que também vai envelhecer.
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Na minha frente, na fila do banco, um homem bufa e resfolega de forma que todos possam ouvir. Quer deixar explícita sua irritação com uma idosa que está no caixa e acaba de constatar, envergonhada, que digitou a senha errada. Além da impaciência injustificável — inclusive porque foi atendido cinco minutos depois — o que ele demonstra é ageísmo. O termo vem do inglês (ageism) e usa a palavra age, que significa idade, para descrever o preconceito contra as pessoas mais velhas. Foi criado em 1969 pelo psiquiatra americano Robert Butler, um militante da causa, mas ainda não caiu na boca do povo por aqui, por isso precisamos falar muito disso, apontando um mal que descamba para o abuso e a violência.
“Você é um inútil”, “está gagá”, “lugar de velho é em casa”. Essas são frases ditas ou ouvidas nas ruas e dentro dos lares, que são internalizadas e destroem a autoestima. Vão além: determinam que não há lugar para o idoso na sociedade, exigem que ele saia de cena e se torne invisível. No entanto, o ageísmo não precisa ser forçosamente grosseiro. Há formas veladas, até “bem intencionadas” na aparência, que mascaram o preconceito. Uma delas é infantilizar o indivíduo, falando com ele de forma tatibitate ou usando expressões como “vozinho” ou “vovozinha”. Até um cumprimento do tipo “você não parece ter 60 anos!” embute a ideia de que tem 60 está acabado! Portanto, quando receber um elogio deste tipo, responda: “você também está ótimo para sua idade!”. De uma forma bem-humorada, chamará atenção para os estereótipos que envolvem o envelhecimento.
Como lutar contra isso? Em primeiro lugar, ter consciência de que a discriminação existe e não permitir que ela aconteça. Em segundo, não se isolar, ou seja, integrar-se inclusive em ambientes com gente mais jovem — juntos, sempre somos mais fortes. Por último, engajar-se nesta causa, porque envelhecer não é uma doença, nem um defeito que precise de conserto. O fato de alguém não sofrer preconceito torna esta pessoa uma privilegiada. Esse é um bom motivo para tentar evitar que outros sofram. A organização internacional HelpAge criou a campanha “Age demands action” (“Idade demanda ação”) em 60 países com o objetivo de mobilizar idosos a se organizar e fazer lobby para questões que são do seu interesse. A ONU estima que o número de pessoas com 60 anos ou mais vai dobrar até 2050. Os atuais 962 milhões de idosos serão 2,1 bilhões até lá. A forma como serão tratados dirá muito sobre a sociedade em que vivemos.