Márcia Lage
50emais
Neste fim de ano em que o Espírito de Natal, de benevolência e caridade anda circulando (pelo menos nas propagandas) peço clemência à Inteligência Artificial que tomou posse do meu número de telefone e me tortura diariamente com uma média de 20 chamadas.
Perdão, sr(a) IA, não sei o que fiz para merecer tamanha consideração de sua parte, mas imploro que me esqueça. Apague-me de seus computadores espalhados pelos quatro cantos do Brasil (quiçá do mundo) e pare de me atormentar.
Sou importunada às 8h da manhã com a primeira chamada e você só desiste de mim às 8h da noite. É uma longa jornada de trabalho para fisgar um bobo. Vale a pena tanto esforço? Deve valer, se é tão insistente.
Tenho experiência no ramo da picaretagem. De golpistas baratos como você, que copiam perfis de amigos e pedem dinheiro emprestado; criam páginas falsas de bancos para roubar senhas ou ligam 24 horas por dia para oferecer empréstimos ou negociações de empréstimo.
O celular já está configurado para denunciar o spam. A cada ligação, o bloqueio de um número. E lá vem outro, e mais outro, numa teimosia de desequilibrar emocionalmente o dono do aparelho. De onde tiram tanto número de telefone assim, minha Santa Clara?
Meus amigos têm carinha no perfil deles e quando ligam não perguntam se eu sou eu nem se meu CPF termina com os três números tais. Vão logo ao assunto, de forma amorosa, amigável. Não pedem dinheiro. Portanto, esse oi de você já denuncia logo o golpe.
Peço, encarecidamente, que me poupe de sua implacável insistência e capacidade infinita de criar números que substituem os bloqueados num passe de mágica. Lembre-se que tenho uma tecla de denúncia, que pode acabar com o seu negócio.
Para quem não sabe, ela fica ao lado da tecla de bloqueio. Primeiro você bloqueia o número e clica em denunciar. O celular abre uma caixa para assinalar o motivo da denúncia. Marque uma. Eu marco fraude. Vem outra caixa pedindo para esclarecer. Coloco tentativa de golpe.
Depois disso as chamadas vão rareando. Continuem na defesa. Não atendam, bloqueem e denunciem. Uma hora a gente vence a Inteligência Artificial com nossa inteligência verdadeira. Se vamos conseguir prender os mentores intelectuais dessas quadrilhas eu não sei. Mas vamos dificultar o trabalho deles.
A solução definitiva para todos seria um contra-ataque cibernético usando IA para combater IA. Algo como uma tecla que se aperta no telefone e a central espalha-golpes voa pelos ares. Matar robôs não é pecado.
A verdade, porém, é que por trás dessas atividades criminosas há comandos humanos muito poderosos. Então, melhor ter paciência, bloquear, denunciar e checar pedidos de ajuda de amigos ou parentes. Liga para eles antes de fazer um pix apressado, imbuído do espirito de solidariedade natalina. Melhor ser astuto agora do que passar as festas de fim de ano chorando de raiva.
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