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Muita gente não sabe que “a maior poetisa brasileira viva”, Adélia Prado, leva uma vida muito simples na sua Divinópolis, cidada a cerca de 120 Km de Belo Horizonte, onde nasceu há 88 anos e de onde nunca saiu.
Adélia, casada e mãe de cinco filhos, foi professora durante 24 anos. Chegou a ocupar o cargo de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura da sua cidade e publicou o seu primeiro livro, “Bagagem”, em 1976.
Ela não ocupa uma vaga na Academia Brasileira Brasileira de Letras. Mas foi agraciada pela Academia com o Prêmio Machado de Assis de 2024, alguns dias antes de chamar a atenção do Brasil ao ganhar o Prêmio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa;
Ao falar sobre o fato de Adélia Prado ser a vencedora do Camões de 2024, em artigo no Estadão, Wilson Alves-Bezerra escreveu:
“Que ela seja nossa primeira poeta a receber o Prêmio Camões é motivo de celebração, em tempos em que a delicadeza parece ter sido abandonada como coisa anacrônica em nossa vida social”. E arrematou: “Um país em que Adélia Prado possa ser reconhecida, em vida, como uma de suas melhores poetas, é certamente um lugar menos inóspito para se viver.”
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“Duplamente em festa”, foi assim que a escritora Adélia Prado, em nota enviada à imprensa, descreveu o seu estado de espírito depois de receber o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, anunciado na quarta-feira (26). Uma semana antes, no dia 20, a escritora já estava celebrando o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras.
“Foi com muita alegria e emoção que recebi, hoje, dia 26 de junho, um telefonema da senhora Dalila Rodrigues, ministra da Cultura de Portugal, me informando que fui agraciada com o Prêmio Camões. Estava ainda comemorando o recebimento do Prêmio Machado de Assis, da ABL, e agora estou duplamente em festa. Quero dividir minha alegria com todos os amantes da língua portuguesa, esta fonte poderosa de criação”, disse a poeta.
Prêmio Camões
A reunião do júri para o Prêmio Camões ocorreu na manhã de quarta-feira, de forma virtual. Os jurados foram o escritor e professor Deonisio da Silva (Brasil), o professor e pesquisador Ranieri Ribas (Brasil), o filósofo e crítico de arte poética Dionisio Bahule (Moçambique), o professor Francisco Noa (Moçambique), a professora Clara Crabbé Rocha (Portugal) e a professora Isabel Cristina Mateus (Portugal).
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Segundo o júri, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo…”, Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.
O valor da premiação é de 100 mil euros, um dos maiores valores do mundo entre os prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e do Governo de Portugal.
Machado de Assis
É o segundo prêmio que Adélia Prado conquista em menos de uma semana. No último dia 20, a Academia Brasileira de Letras (ABL) anunciou que a escritora mineira foi a vencedora do Prêmio Machado de Assis 2024
Quem é Adélia Prado
Adélia Prado nasceu em 1935 e consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com “Coração Disparado”, escrito em 1978.
Em 1950, após a morte de sua mãe, Adélia começou a escrever seus primeiros versos. Em 1953 formou-se professora e logo passou a lecionar. Em 1973 formou-se em filosofia.
Publicou seus primeiros poemas em jornais de Divinópolis e de Belo Horizonte. Em 1975, com o apoio de Carlos Drummond de Andrade seus poemas foram publicados no livro “Bagagem” que chamou a atenção da crítica pela originalidade.
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Em 1978, publicou “O Coração Disparado”, com o qual conquistou o “Prêmio Jabuti de Literatura”, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.
Em 1979, depois de lecionar durante 24 anos, Adélia Prado abandonou o Magistério e passou a se dedicar à carreira de escritora.
Foi Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis. Participou, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses. Em 2014, foi condecorada pelo governo brasileiro com a “Ordem do Mérito Nacional”.
Características da obra de Adélia Prado
Com vocabulário simples e linguagem coloquial, Adélia produz uma obra leve, marcante e original. Em sua obra se vê um misto de rebeldia e doçura feminina, um profundo sentimento humano e uma dicotomia entre os apelos do corpo e da elevação espiritual.
A fé católica se faz presente na obra de Adélia, que costuma tratar de temas ligados a Deus, à família e principalmente à mulher.
Sua poesia costuma colocar a perspectiva da mulher em seus poemas, destacando sempre o “feminino” em primeiro plano. Sua poesia é conhecida por retratar o cotidiano sob o olhar “feminino” e não feminista e libertário.
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Principais obras:
- Bagagem (1975)
- O Coração Disparado (1978)
- Soltem os Cachorros (1979)
- Cacos para um Vitral (1981)
- Terra de Santa Cruz (1981)
- Os Componentes da Banda (1984)
- O Pelicano (1987)
- A Faca no Peito (1988)
- Poesia Reunida (1991)
- O Homem da Mão Seca (1994)
- Duas Horas da Tarde no Brasil (1996)
- Oráculos de Maio (1999)
- Estreia do Monólogo Dona da Casa (2000)
- Quero Minha Mãe (2005)
- A Duração do Dia (2010)
(Fontes: portal G1 e Pensador)