Antes do depoimento de hoje sobre como um brasileiro que mora em Los Angeles está enfrentando o isolamento social – a frase do título é do depoimento dele -, eu quero comentar o caso do Primeiro-ministro da Grã-Bretanha.
Será curioso ver o que Boris Johnson, 55, vai dizer sobre a covid-19, quando estiver plenamente recuperado da doença. Depois de ficar vários dias na UTI de um hospital em Londres, o Primeiro-Ministro britânico recebeu alta neste domingo de Páscoa, mas ainda vai ficar uns dias de molho, antes de voltar a trabalhar.
Ao lado dos Presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, Boris Jonhson está entre os líderes que desdenharam do coronavírus. Ele chegou a lançar uma campanha para que os britânicos saíssem às ruas e se contaminassem, de forma a criar imunidade contra o vírus.
Ao tomar conhecimento de um estudo mostrando que milhares de britânicos morreriam, se nada fosse feito para conter o novo coronavírus, mudou de ideia. E passou a defender o isolamento social. No dia 23 de março, decretou uma quarentena de três semanas no país. Poucos dias depois, testou positivo. Continuou trabalhando até que sua saúde piorou e ele precisou ser internado. Ficou uma semana no Hospital. A Grã-Bretanha é, hoje, um dos países da Europa mais afetados pelo vírus.
O avanço do novo coronavírus nos Estados Unios também obrigou o Presidente Trump a rever sua posição. Hoje, os EUA são o país com o maior número de infectados e mortes no mundo; ao todo, são 530 mil casos confirmados e 20,6 mil mortes. O grande foco da doença é Nova York.
Dos três líderes, o único que ainda defende o relaxamento do isolamento social é o Presidente Bolsonaro. Ele disse na noite deste domingo que o vírus já está indo embora. Mas não é o que mostram os números. Até agora são 1.223 mortes e 22.169 casos confirmados da covid-19. Numa entrevista, também esta noite, a respeitada infectologista Margareth Dalcolmo fez um alerta: “Estamos em um momento de aceleração descontrolada da doença.”
Quem sabe começa a alterar essa lógica perversa da escravidão feminina?
O depoimento de hoje sobre como as pessoas estão enfrentando o isolamento social é do jornalista Laerte Rímoli, brasileiro que mora em Los Angeles, nos Estados Unidos, com a mulher e o filho pequeno. Vi o texto na página dele no Facebook e achei muito bom.
Leia o que ele escreveu depois de semanas de quarentena:
“Estou impressionado com a força do modelo patriarcal no mundo. Sem empregada doméstica ou, eufemisticamente, secretária do lar, confinados, dá pra notar o quanto pesa o trabalho de casa. Ele é contínuo, cansativo, não tem glamour.
Roupa pra lavar, comida, limpeza de banheiros. Enfrentar uma latrina não é fácil. Tarefas óbvias, de sobrevivência, do dia-a-dia.
Pois bem, nas inúmeras conversas de clausura, com amigos e parentes, um espanto: muitos deles não despregam a bunda da poltrona. Tv na veia. Há sempre uma mulher (mãe, esposa, irmã) pra fazer o “trabalho sujo” por eles.
Assim é com meu amigo árabe, com outro oriental e, lógico, com brasileiros de classe média paparicados, há anos, por uma fêmea. Paga ou não.
Há honrosas exceções. Aqui em Claremont, Pedro Paulo Diniz, especial amigo, divide todas as tarefas com Marina. Troca fralda do garotinho de 2,5 anos, brinca com a filha de 6, faz comida, lava o chão, limpa banheiro.
Nos Estados Unidos é mais comum ver homens na labuta. Uma pessoa cobra, em média, 20 dólares a hora por faxina. Mas, será que os CEOs estão pondo a mão na massa?
A pandemia deixou o mundo de pernas pro ar. Quem sabe começa a alterar essa lógica perversa, milenar, odiosa, da escravidão feminina?”
Nesse domingo de Páscoa, dois eventos chamaram a minha atenção, pelo que há de celestial em ambos. O primeiro, foi o concerto que o tenor italiano Andreas Bocelli na deu na deslumbrante catedral de Milão, uma das cidades italianas mais afetadas pelo novo coronavírus. Detalhe: a catedral estava vazia. Além do tenor, havia apenas o organista Emanuele Vianelli. Bocelli cantou dentro e fora da catedral.
Veja que espetáculo. O vídeo começa mostrando as ruas de Milão. O tenor inicia seu canto a partir de 1 minuto e 40 segunos:
O outro grande espetáculo do dia foram os sinos repicando na cidade mineira de São João Del Rei, celebrando o renascimento de Cristo: