Pedro Augusto Leite Costa
50emais
Quero viver para sempre. Quero sentir a brisa do mar, o beijo de uma mulher e o sol nascendo por centenas de anos. Adoro viver, adoro me chamar Pedro e adoro ser homem (embora me julguem sexista), mas acho que Deus foi injusto comigo ao me dar, no máximo, 100, 110 anos de tempo de vida.
Se ele criou o mundo em apenas sete dias (segundo alguns, porque não tinha ninguém em cima dele atormentando), bem que poderia ter dado mais tempo à humanidade. Poderíamos ver a nossa estirpe crescendo a cada século, tataranetos se formando na universidade, um mundo sem este aquecimento brutal e até o Cruzeiro voltando à primeira divisão. O tempo, enfim, seria o senhor da razão.
Por isso que eu tomo Metformina. Inventado em 1922 na França pelo médico Jean Steme, mas só introduzido no país em 1957 e nos Estados Unidos (pasmem) em 1995, é consumido por milhões de diabéticos (mais de 85 milhões de pessoas) para reduzir o açúcar no sangue, um problema que atinge pelo menos 30% dos seres humanos. É hoje um dos remédios mais baratos e mais vendidos em todo o mundo, perdendo apenas para o infalível, indefectível e salvador da pátria Viagra. Ficou famoso a ponto de entrar na lista de remédios especiais da Organização Mundial da Saúde, uma espécie de Oscar do mundo das drogarias.
O chamado Cloridrato de Metformina é tudo de bom. Vendido no Brasil sobre diversas marcas, genéricas ou não, como Glifage, o remédio não só contribui para a redução do açúcar no corpo humano : também diminui a chance de problemas cardiovasculares, encrencas no rins e no fígado, combatendo ainda a triglicérides, aquela substância encontrada em tudo que é gostoso na vida, como, na verdade, a maioria dos alimentos.
No setor feminino, contribui para elevar a taxa de nascimentos em grávidas com síndrome policística ovariana. Em grávidas que tomam Metformina para combater a diabetes gestacional, nascem bebês com menos gordura visceral, o que evita torná-los diabéticos ao longo da vida. E, o melhor dos mundos, o remédio é associado à redução de peso. Precisa mais?
O que os cientistas estão descobrindo agora é que a Metformina reduz a velocidade do envelhecimento e aumenta a expectativa de vida por melhorar a resposta do corpo aos efeitos oxidantes do tempo. Em bom portugues, acredita-se que com o passar dos anos o ser humano engole tanto sapo (e também venenos, lixos, desilusões, traições, enfim, tudo de ruim) que algumas células ficam rodando no seu corpo sem função nenhuma, a não ser inflamá-lo em tudo quanto é lugar: daí a inevitável, e agora cada vez mais evitável, velhice, que trás degenerações de tudo quanto é jeito, inclusive caduquice e câncer. É o que eles chamam, em inglês, de inflammaging, uma mistura de inflamação com envelhecimento.
Os cientistas acreditam que o remédio imita os efeitos do jejum, ativando os sensores de algumas células chamadas de AMPK. Tem até gente que calcula que você teria pelo menos 25% a mais de vida se tomar o remédio, embora o Deus todo poderoso pode decidir o contrário. Enfim, a inflamação é a bola da vez, o grande mal a evitar. Daí as pessoas tomarem curcuma, glutatião, astaxantina, vitamina B2, selénio, vitamina vitamina e zinco, entre outras substâncias.
A Metformina, a bula avisa, tem efeitos colaterais: diarreia, cólicas, náuseas, vômitos e aqueles ventos desagradáveis expelidos pelo corpo quando você menos espera, o que os dicionários chamam de flatulência. Mas, nem eu nem ninguém que eu conheço que toma Metformina tivermos qualquer problema tomando o medicamento.
Enfim, mandem uma mensagem quando eu estiver celebrando os meus 100 anos. Vocês provavelmente terão certeza – ou não – de que este profissional da pena ainda estará vivo. E feliz. Sempre tomando Metformina.
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