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De certa maneira, este estudo de uma importante universidade americana em parceria com uma empresa chinesa, repete o que outras pesquisas já mostraram: tristeza envelhece. A solidão, é sabido, leva ao entristecimento.
E tem um impacto tão forte em quem carrega esse sentimento, que provoca um envelhecimento mais rápido do quem alguém que fuma. E tem outros agravantes. “Já há estudos que mostram mulheres deprimidas tem mais chances de infartar do que aquelas com colesterol alto ou pressão arterial, por exemplo.” explica o especialista.
O estudo foi realizado com mais de 12 mil adultos chineses, como mostra este artigo publicado por O Globo.
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Solidão e não ser feliz podem envelhecer o relógio biológico das pessoas em até um ano e oito meses mais velho, segundo estudo feito pela Universidade de Standford nos Estados Unidos em parceria com a Deep Longevity, uma empresa chinesa. Como medida de comparação, as duas emoções negativas são piores à saúde de uma pessoa do que fumar, visto que o tabagismo acelera o envelhecimento em um ano e três meses.
O estudo se baseou nos dados de mais de 12 mil adultos chineses, todos eram de meia-idade, e cerca de um terço tinham condições subjacentes importantes como doenças pulmonares, câncer e chegaram a sobreviver a acidentes vasculares cerebrais. Os participantes foram então pareados por idade cronológica e sexo, e tiveram seus resultados comparados para estabelecer quais estavam envelhecendo mais rápido.
Sentir-se solitário ou infeliz aumentava a idade biológica em até um ano e oito meses, o que foi o maior preditor de um declínio biológico mais rápido. Em seguida veio o tabagismo, apenas cinco meses de diferença. Ser do sexo masculino também era uma predisposição para envelhecer mais rápido. Assim como morar em uma área rural, devido às condições mais duras dos trabalhadores, como fábricas e menos hospitais e consultórios médicos.
Falta de conexão social
Não se casar, que também está ligado a uma morte precoce, aumenta a idade de alguém em até quatro meses.
— A solidão nada mais é do que a percepção de falta de conexão social com outras pessoas. Se somos seres sociais, essa escassez de interação gera processos inflamatórios crônicos no nosso corpo e altera a nossa capacidade cognitiva.
Quando estamos sozinhos, nosso cérebro nos deixa em estado de hiperalerta, mediado pelo aumento na produção do cortisol, como uma resposta inata de nos proteger de uma potencial situação de ameaça à sobrevivência.
Com o aumento do cortisol, várias reações químicas e mentais relacionadas ao estresse são desencadeadas, gerando maior desgaste do corpo e da mente. O estado de hipervigilância também prejudica a qualidade do sono, ao prejudicar o relaxamento necessário para uma boa noite de sono, impedindo a adequada restauração do corpo após um dia acordado. Isso ocorrendo constantemente degenera a pessoa por dentro e por fora, o que acaba fazendo-a envelhecer. É um círculo vicioso — explica Arthur Danila, Coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
A pesquisa também mostrou que danos ao relógio biológico do corpo aumentam os riscos de Alzheimer, diabetes, doenças cardíacas e câncer. Especialistas acreditam que a inflamação crônica causada pela infelicidade causa danos às células e órgãos vitais.
Adultos de meia idade
— Os estados mentais e psicológicos são alguns dos preditores mais robustos de resultados de saúde, e qualidade de vida, no entanto, foram omitidos dos cuidados de saúde modernos — afirma Manuel Faria, autor do estudo.
O estudo analisou apenas adultos de meia a idade avançada, o que significa que não está claro se os resultados são transferidos para grupos etários mais jovens. Entretanto, com a pandemia do coronavírus, é nítido que há mais pessoas infelizes, solitárias e com altos níveis de ansiedade e depressão.
— Já há estudos que mostram mulheres deprimidas tem mais chances de infartar do que aquelas com colesterol alto ou pressão arterial, por exemplo. Isso acontece em razão do aumento dos mediadores de resposta do estresse. Eles abaixam nossa imunidade, aumentam a produção de cortisol e insulina, aumentam a arterioesclerose, que é o acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas artérias assim como podem levar à atrofia cerebral.
Esses depósitos dificultam a passagem de sangue dos vasos, o que chega a causar infartos, derrames e até morte súbita. Outras doenças crônicas também são desencadeadas por conta da diminuição da imunidade e de fatores inflamatórios, quase 40% das pessoas com depressão apresentam doenças crônicas associadas como diabetes, doenças pulmonares, hipertensão arterial dentre outras.
Isso associado a fatores de maior vulnerabilidade como hereditariedade, falta de uma rede de apoio de amigos e famíliares, diminuição de recursos financeiros que irão prejudicar importantemente não somente a quantidade, mas a qualidade de vida dos pacientes em sofrimento emocional — diz Camila Magalhães, psiquiatra e fundadora da Caliandra Saúde Mental.
Números da depressão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 322 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão atualmente. Nos Estados Unidos, um terço dos americanos diz se sentir “seriamente” solitário, de acordo com uma pesquisa da Harvard, enquanto cerca de 8% afirmam sofrer de depressão todos os anos.
No Brasil, estima-se que 11 milhões de pessoas sofram da doença. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, um dos mais amplos inquéritos de saúde do país, em média, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico médico de depressão.
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