Márcia Lage
50emais
O excesso é desorganizador. Chego a essa conclusão toda vez que entro numa casa bagunçada.
As loucas do almoço na pia, junto com as do café da manhã, e a pessoa usando outras e mais outras para fazer o café da tarde.
Tudo se acumula e vai dando preguiça de lavar. Se houvesse apenas quatro pratos, quatro xícaras e quatro panelas na cozinha, a preguiça seria vencida pela escassez.
Vejo de relance os armários abarrotados. Cinco quilos de açúcar, cinco de arroz, um quilo de feijão de cada cor.
Moram duas pessoas na casa e nem cozinham diariamente. Então, por que não comprar embalagens de um quilo?
A geladeira sopita. A porta empena com tanta lata de cerveja. Para achar uma fruta é preciso desmontar a prateleira, abarrotada de pedaços disso e daquilo, sobrinhas disso e daquilo.
Tudo vai para o lixo, e isso é outra consequência grave da acumulação.
Se um ser humano refletisse sobre a produção de lixo que ele lança sozinho nos aterros sanitários de sua cidade, ele refrearia um pouco essa compulsão por comprar mais do que o necessário para viver.
Se aprofundar um pouquinho mais, verá que todo excesso gera escassez, e se ele joga comida fora, outros irão chafurdar nas suas latas de lixo para tentar encontrar algo que lhe garanta um dia a mais de sobrevivência.
O abuso de embalagens plásticas é outro desdobramento negativo desse excesso de coisas.
Mesmo alguns supermercados cobrando pelas sacolas, quase ninguém tem o hábito de levar a sua. Por que?
Porque compram mais do que conseguem carregar, e aí entulham a casa com as malditas sacolinhas de vida eterna.
Separar o lixo orgânico do reciclável, então, nem pensar. “Aqui não tem coleta seletiva”, argumentam.
Mas, se repararem bem, verão que há pessoas que vivem da venda do lixo reciclável (garrafas de plástico, embalagens de leite e sucos, latas de cerveja e refrigerante, vidros).
Se essas embalagens forem limpas e separadas para a lixeira, essas pessoas que sobrevivem do comércio delas não vão precisar rasgar os sacos plásticos para achar o que precisam e deixar o resto espalhado na rua, atraindo ratos, baratas e urubus.
A falta de uma definição clara da nossa responsabilidade cidadã cria nos bairros, nas cidades e no planeta um reflexo do que é nossa casa.
Um excesso difícil de organizar, um desperdício incapaz de produzir igualdade social e uma produção de lixo que não cabe no globo terrestre, pondo em risco a sobrevivência humana.
Reduzir o consumo, usar sacolas retornáveis, reutilizar várias vezes as embalagens, separar o lixo e cozinhar apenas o que se vai comer são atitudes simples e responsáveis, fáceis de serem executadas no dia a dia.
Vão mudar o mundo? Não. Mas vão criar hábitos de higiene que tornam as casas mais limpas e organizadas.
Do ponto de vista individual, isso reflete em mais organização interna, presença e foco. Quem consegue produzir na bagunça?
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Bingo, Marcinha!!! Este precisa ser o futuro. E já.🌿