Maya Santana, 50emais
Uma boa reportagem de Valdir Ribeiro Jr. para a Folha de São Paulo sobre os poucos projetos de moradia compartilhada para idosos existentes até agora no Brasil. As construtoras estão levando muito tempo para perceber o envelhecimento acelerado da população.
Embora um dos empresários ouvidos na reportagem acredite que há uma tendência de se construir mais esse tipo de moradia no país, a verdade é que ainda há bem poucos projetos em execução. Esse tipo de moradia surgiu na Noruega e ganha adeptos no mundo inteiro.
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Em busca de um envelhecimento mais saudável, um grupo de professores aposentados da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) planeja construir uma vila perto do campus exclusiva para quem tem mais de 55 anos.
A Vila ConViver deve ficar pronta em 2021 e terá 44 casas com tamanhos entre 50 e 100 metros quadrados.
Ela segue o modelo de “cohousing”, ou moradia compartilhada, e funciona como uma vila. As casas são construídas umas de frente para as outras, com jardins e áreas de lazer compartilhadas. Haverá ainda espaços de uso comum, como lavanderias, bibliotecas e refeitórios.
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“O foco é a criação de uma comunidade e o fortalecimento da confiança entre osmoradores, para que todos possam se apoiar”, diz Bento Carvalho Jr., um dos coordenadores da Vila ConViver.
O ex-professor da Unicamp defende que compartilhar o espaço tem efeito positivo na saúde dos moradores.
“Quando a pessoa se aposenta, é comum que ela perca os vínculos sociais e se isole. Isso é uma armadilha terrível, porque pode levar a depressão ou outras doenças senis. A vida compartilhada ajuda a combater essa tendência”, diz.
A Vila ConViver será construída em um terreno com cerca de 22 mil metros quadrados. A lista de espera para a compra dos terrenos, que começa em fevereiro de 2019, tem 66 pessoas. São duas opções: R$ 200 mil por uma casa de 50 metros quadros e R$ 400 mil por um imóvel de cem metros quadrados.
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Modelo semelhante já é adotado pelo residencial Vila Ipê, no bairro do Morumbi, zona oeste de São Paulo.
Inaugurado em dezembro de 2016, o empreendimento fica em um terreno de 2.800 metros quadrados. Nele, há um casarão com espaços de uso comum e 17 suítes privadas, com áreas entre 10 e 28 metros quadrados.
As acomodações, chamadas de casas, ficam todas em volta de um jardim. “Isso facilita a interação entre os moradores, o que faz parte do nosso programa de vivência e é benéfico para a saúde do idoso”, diz Marinez Schiehll, empresária e enfermeira responsável pelo residencial.
As suítes estão disponíveis apenas para aluguel, que custa em torno de R$ 12 mil mensais. O valor inclui atendimento 24 horas de profissionais de saúde e alimentação.
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Schiehll conta que investiu R$ 1 milhão para adaptar o empreendimento. A reforma incluiu a compra de móveis, mudanças nos ambientes para atender às necessidades dos moradores mais velhos e campainhas e câmeras por todo o espaço.
“Depois de três meses, tivemos os primeiros hóspedes e hoje operamos com mais de 90% de ocupação o ano todo”, afirma.
Os serviços de saúde são também o diferencial do edifício Vintage Senior Residence, lançamento da Cyrela em Porto Alegre (RS) para moradores com mais de 60 anos.
Previsto para ser entregue em 2021, o prédio terá posto de saúde para atendimentos simples, como verificar a pressão arterial, botão de emergência nos apartamentos e lista de atividades de lazer que inclui hidroginástica e artesanato, entre outras.
O condomínio custará R$ 900.
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Os moradores também poderão contratar, por conta própria, serviços como lavanderia e fisioterapia.
O prédio de dez andares terá 120 imóveis de 42 metros quadrados, a venda por R$ 550 mil cada um. O condomínio é estimado em R$ 900.
Esse modelo de moradia para pessoas mais velhas deve crescer nos próximos anos, mas ainda representa um nicho pequeno no mercado, avalia Renato Orfaly, diretor no Brasil do portal de busca de imóveis Properati.
“Com o envelhecimento da população, esses condomínios residenciais com espaços de convivência e repletos de opções de serviços e lazer devem ganhar espaço. Mas ainda não representa uma tendência”, afirma Orfaly.
“O que vemos hoje no mercado são bons experimentos, que ajudam a divulgar e fortalecer o conceito de compartilhamento de espaço.”
Rodrigo Putinato, diretor de vendas da Cyrela, discorda. “É um mercado especializado que tem bastante potencial. Existe um movimento de construtoras formatando produtos para esse público, e nós estamos entre os primeiros a oferecer uma solução completa.”