Maya Santana, 50emais
Nesta entrevista a Patricia Kogut, de O Globo, Xuxa fala de um assunto que tem mencionado em outras conversas com a imprensa. Ela está preocupada com o nível das pressões que vem recebendo, sobretudo de fãs, para que não envelheça, não deixe que as rugas se instalem. Para uma mulher bonita como Xuxa, acostumada a ser cortejada, chegar aos 56 anos não está sendo fácil. Além de ter que enfrentar as marcas que o tempo, ela querendo ou não, vai deixando, tem que suportar críticas de seus admiradores. “Não tenho o mesmo corpo nem a voz dos 20 anos. Uma parte do meu público não se conforma com isso, quer me ver como uma menina, usando chuquinha,” reclama ela, quase fazendo um apelo: “As pessoas precisam compreender que esse inconformismo delas atrapalha a minha evolução natural, as novas fases da minha vida, o meu crescimento e o meu envelhecimento.”
Leia:
Às vésperas de completar 56 anos (no próximo dia 27), Xuxa se diz realizada profissionalmente, pronta para ser avó e envolvida numa relação amorosa “completa, como nunca vivi”. Passará o dia do aniversário no estúdio, comandando a final do reality “The four” ao vivo (“me dá um friozinho, tenho medo”). Também nessa data, entra em pré-venda o livro “Xuxa — Edição limitada para colecionador”, com fotos selecionadas por Gringo Cardia e prefácio de Pedro Bial.
Ela prepara ainda “Geração Xuxa”. É uma atração, para usar um epíteto que ela criou e consagrou, para “baixinhos”, que vai ao ar no PlayPlus, streaming da Record. De cabeça raspada (“uma libertação: sempre tive pouco cabelo mesmo”), ela garante estar em paz com a idade, apesar da cobrança dos que “não se conformam com o fato de eu não estar usando chuquinha”. Este papo, pelo telefone, era para ser breve, mas rendeu quase uma hora de boa conversa.
Como é fazer 56 anos para uma figura pública como você, que vem sendo cobrada por ter envelhecido ?
Eu estou com rugas e as bochechas caídas. Adoro pegar sol. Sou muito cobrada, meu envelhecimento choca as pessoas. Trabalho com a imagem e me olho bastante no espelho. Outro dia, pus a perna de fora na TV e pensei: não tá legal isso. Com a minha idade, nem tudo me convém. Não tenho o mesmo corpo nem a voz dos 20 anos. Uma parte do meu público não se conforma com isso, quer me ver como uma menina, usando chuquinha. Até consigo entender isso: a memória afetiva é algo muito poderoso. Mas as pessoas precisam compreender que esse inconformismo delas atrapalha a minha evolução natural, as novas fases da minha vida, o meu crescimento e o meu envelhecimento.
Você frequenta as redes?
Entro todos os dias e leio o que escrevem. Pesquiso roupa, música, fofoca. É fundamental para estar antenado. Embora trabalhe com televisão, não assisto muito e me informo pela internet. Mas ela é um canal que te conecta com gente do bem e com gente que não faz nada e tem tempo para as coisas ruins. Falaram que eu estava velha, e daí veio aquele meu desabafo, disse o que estava entalado ( ela se refere a comentários no Instagram ). Minha mãe me ensinou a não bater, mas a não apanhar também. Então, para mim é difícil não reagir. Só que naquele ambiente, se você responde, você é bruto e ignorante. Mas eles ( os internautas agressivos ) podem tudo, né?
Como você se cuida?
Andava meio sem memória. Minha médica me disse que estava na hora da reposição hormonal. Uso um creminho na perna e me fez bem. Sou vegana e estou cozinhando direitinho. Não quero fazer plástica, tenho medo. Quando a Sasha tinha 2 anos, fiz nos seios e deu errado. A médica pôs mais silicone do que eu queria e fez uma lipoescultura na barriga. Depois, o silicone encapsulou duas vezes, tive fibrose. Tenho medo de queloide. Está dando problema até hoje: meu corpo rejeita. Não sou contra, mas para mim não funciona. Sou careteira, fiz botox uma vez, me paralisou, não gostei, demorou seis meses para sair. Existem máquinas sensacionais para uso estético, essas eu faço. Meu pescoço me incomoda, mas, pelo menos por enquanto, vai ficar assim.
Por que ficou careca?
Passei a máquina 2. Era um desejo antigo, que surgiu há anos, quando visitei um hospital de câncer em Barretos. Fui a um pavilhão cheio de crianças carecas. Uma enfermeira pediu para fazer uma foto comigo e soltou o cabelo dizendo, sem maldade, que “era para ficar bonita”. Pensei: ela nunca deveria dizer algo assim na frente daquelas crianças. Por que só é bonito quem tem cabelo? Aí, veio uma menina, e pedi a ela para tirar a touquinha para posar para uma foto. Disse que ela era linda daquele jeito e que cabelo não era uma coisa tão boa, afinal, ou não cresceria em locais indesejáveis. Ela riu. Para mim foi uma libertação. Acho que daqui a 40, 50 anos, isso se generalizará. Sempre tive problemas para cuidar do meu pouco cabelo. Para certas mulheres é fácil, né? É como parto normal, tem gente que abre a perna e o bebê nasce. Eu gastava muito tempo fazendo aqueles cachos cafonas. Não quero mais. E o Junno ( Andrade, seu namorado ) adora. Diz que é a coisa mais gostosa do mundo fazer carinho na minha cabeça agora e que sou “a calopsita dele”.
Vocês são casados?
A gente é tudo. Somos amantes, casados, somos um casal. Ele mora em São Paulo e vem toda semana. Funciona. Fazemos muito Facetime e Skype. Nunca tive uma relação tão completa. Meu primeiro relacionamento foi com Pelé e durou seis anos. Depois, teve o Beco ( o piloto Ayrton Senna ), com quem fiquei dois anos. Com Luciano ( Szafir, pai de Sasha ) eu nunca consegui morar, a gente ia e voltava, faltava sintonia. Com o Junno é diferente. Fazemos planos para o futuro, queremos ficar velhinhos juntos.
Falando em futuro, você está preparada para parar um dia?
Minha atividade é minha terapia. Se eu parar, acho que dou uma pirada. Trabalho desde os 16 anos. Cresci muito na Globo, aprendi tudo lá e sou grata por isso. Na Record, estou satisfeita também: eles estão sempre querendo saber se estou feliz. Isso é bom, né? Trabalho por prazer, não por dinheiro. É gratificante. Nunca participei de um seriado e um dia, talvez, faça o filme da minha vida.
Você também é empresária (ela é sócia de uma cadeia de clínicas de depilação a laser e de uma rede de casas de festas). Não trabalha por dinheiro?
Tenho o suficiente para a Sasha e para os filhos dela. Mas se eu não tivesse sido tão enganada e roubada, teria quatro vezes mais e o bastante para meus bisnetos até a faculdade.
Você está se referindo à Marlene (Mattos)?
Não. Marlene não me roubou. O que quer que ela tenha feito, eu entreguei na mão dela voluntariamente. Falo de profissionais que me cercaram todos esses anos, de advogados a maquiadores e figurinistas. Pessoas que mentiram para mim e me usaram.
O que ainda almeja?
Falta só a cerejinha do bolo: ser avó. Mas também quero ver minha filha se formando, encontrando alguém que ela ame muito e achando seu caminho profissional. Ela me pergunta quando eu quero ser avó. Digo: relaxa, comigo só aconteceu aos 35 anos. Claro que estou sonhando com isso, mas as coisas têm um curso natural. Se ela só tiver filho quando eu estiver com 80 anos, eu vou brincar, vou ajudar, mimar e atrapalhar do mesmo jeito.