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Zezé Motta é uma dessas atrizes com quem grande parte dos brasileiros se identifica. Desde que encarnou Xica da Silva, a escrava que virou rainha, ganhou o imaginário popular e não saiu mais da midia.
Chegando aos 80 anos, a atriz, que sempre lutou contra o racismo, agora combate também o preconceito de idade, o etarismo. “Tem gente que fica assim: ‘Nossa, você tem namorado?’. Eu falo: ‘Lógico! Não estou morta!”
Com a agenda de trabalho sempre cheia, a atriz, que vive no Rio de Janeiro, encontra tempo para se dedicar aos netos e ao namorado. Ele mora em São Paulo. Ela não revela sua identidade.
Leia a entrevista que ela deu à revista Quem:
Zezé Motta tem o hábito de contar os atores negros nas produções audiovisuais que assiste. Em suas mais de cinco décadas de carreira, a artista, de 79 anos, foi por anos uma das poucas afrodescendentes a ter espaço na dramaturgia nacional.
“Fui de um tempo em que, em um produto, às vezes, só havia um ou dois atores negros em cena, sempre fazendo papéis subalternos. Quando eu estava em cena, não tinha espaço para a Neusa Borges. Se a Léa Garcia fazia algo, a Chica Xavier não tinha espaço, e assim ia. Tenho até essa maluquice de ficar contando quantos atores negros há em cena. Fico: ‘Oito atores negros!’. Vejo isso como resultado de uma luta! O negro está na moda em todos os produtos”, conta.
Sua voz marcante, calma e acolhedora denunciou por anos o racismo e lutou por elencos mais plurais na dramaturgia. No entanto, a artista chegou a pensar que não veria essa mudança em vida.
“Esperneei, dei cotovelada, denunciei a necessidade da diversidade na dramaturgia, lutei contra a discriminação.
Quando entrei para o Movimento Negro Unificado Contra Discriminação Racial, queria preparar um mundo melhor para os meus filhos e netos.
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Achava que não estaria mais aqui. Estou com 79 anos testemunhando essa viradinha de jogo. Há uma preocupação dos autores, produtores e diretores de caminhar lado a lado com a diversidade. Isso me emociona. Ainda temos muitas lutas pela frente, mas fico feliz”, celebra.
Referência para atrizes como Taís Araujo, Lucy Ramos e Erika Januza, ela encara este papel com naturalidade e sem pressão. Em 1976, seu nome ganhou destaque ao protagonizar a escrava que virou rainha Xica da Silva, no filme de Cacá Diegues.
“Depois de Xica da Silva, fiquei muito em destaque neste sentido. Pensei que fosse coisa de momento, que as pessoas fossem esquecer e outra atriz fosse assumir esse papel de referência. Mas, surpreendentemente, continuo na moda. Ao mesmo tempo em que fico feliz e emocionada, sinto a responsabilidade. Tem que estar sempre atenta, mas acho que já adquiri uma disciplina e não preciso fazer muito esforço para manter esse papel de inspiradora”, diz.
PROVA CONTRA O ETARISMO
Próximo de tornar-se octogenária, Zezé é atualmente uma voz contra o etarismo por meio de seu exemplo de vida. Ela mostra que a idade não limita sua busca pela realização de novos sonhos e pelo prazer enquanto mulher.
“Tem gente que fica assim: ‘Nossa, você tem namorado?’. Eu falo: ‘Lógico! Não estou morta! Recentemente, senti esse etarismo fazendo uma gravação. Acabamos uma cena e foi um corre de um monte de gente para me pegar. E eu: ‘Gente, calma, está tudo bem!’. Faço ginástica com personal três vezes por semana, caminho, me cuido e está tudo tranquilo”, ressalta.
AGENDA INTENSA E DIVERSIFICADA
Zezé, que tem feito muitos trabalhos para o mercado publicitário, também se alegra por estar mais na ativa do que nunca. No elenco da novela das sete da Globo, Fuzuê, de Gustavo Reiz, como a misteriosa Dama de Ouro, a artista ainda poderá ser vista em breve na terceira temporada da série Arcanjo Renegado, do Globoplay, e nas minisséries Fim e Histórias (im)possíveis.
“Não imaginei que estaria nesta idade tão presente em cena. Acho que era até meio inconsciente, mas pensava que uma hora eu ia ter que dar lugar para outra pessoa. Mas foi o contrário. Virei até garota-propaganda depois de idosa. Estou adorando isso. É muito raro eu acordar e falar: ‘Hoje não tem nada para fazer; vou para a piscina do clube’. Não posso reclamar da vida”, comemora.
A artista, que no passado usou sua visibilidade para falar sobre os salários mais baixos que atrizes negras recebiam, reforça que não ficou milionária nas cinco décadas, mas tem a estabilidade financeira que lhe permite ter mais autonomia para escolher os projetos que quer fazer.
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“Eu não fiquei rica, mas vivo muito bem. Não me falta nada. Hoje, tenho uma equipe que negocia trabalhos para mim e muito bem. Artista não sabe fazer isso direito, não. Se deixar por conta do artista, a gente se joga, independentemente de quanto estão pagando. Às vezes, é uma coisa pequena, mas é um produto com uma história ou um diretor que vale a pena. Cinema, então… Se a gente for fazer cinema pelo dinheiro, a gente não faz. Então o jeito é ir dosando”, explica.
Além dos trabalhos como atriz, sua faceta cantora está na nova edição do programa Mulheres Negras, do canal E!. Já nos palcos, ela interpreta a obra de Caetano Veloso no show Coração Vagabundo.
“Antes da pandemia, fiz o álbum O Samba Mandou me Chamar (2018) e tenho viajado muito com os shows em que canto Caetano. Estou muito apaixonada por esse projeto. Acho que vale a pena registar esse repertório. Adoro homenagear”, adianta.
TEMPO PARA SER AVÓ E NAMORADA
No tempo livre, um de seus prazeres é assistir a desenhos animados e brincar com a netinha Safira, de dois anos. Após realizar o sonho de ser mãe criando quatro filhos adotivos, a empresária Luciana, a produtora cultural Carla, a cabeleireira Cíntia e o administrador Robson, Zezé tem se divertido com o papel de avó.
“No momento, o que eu mais curto no dia de folga é ficar com a minha netinha. É a coisa mais linda. Meu ritmo de trabalho é intenso, mas eu tenho conseguido com a minha neta ver desenho na televisão (risos). Estou assistindo a um programa que toda criança está vendo, que é Maria Clara e JP. Esse lado lúdico é muito gostoso. De vez em quando, ela vem com os joguinhos dela e joga em cima da minha cama. Deixo o noticiário de lado e fico brincando e desenhando com ela. É bom ter esse tempo de relaxar, parar de pensar um pouco na vida”, diverte-se a avó de seis netos.
Zezé ainda concilia suas viagens com encontros com seu namorado, que vive em São Paulo. Sem dar detalhes da identidade do parceiro, ela conta que a história de amor é antiga e sobreviveu às idas e vindas ao longo dos anos.
“A gente se conhece há muitos anos, foi um reencontro. Sem dúvida é mais fácil hoje essa relação. Uma das vantagens que a gente adquire com a idade é a experiência e a sabedoria. Hoje em dia, entendo que não vale a pena criar caso com detalhes que você pode superar. Sou a favor do diálogo. A gente aprende que os dois têm que ceder e relevar algumas coisas. Não digo engolir sapo, mas conversar. Senão, a gente não fica junto”, analisa ela, que foi casada cinco vezes e não pensa mais em matrimônio.
“É cada um em sua casa. Um no Rio e outro em São Paulo. Já tive a experiência de dividir a mesma casa e já deu para mim (risos). Sei como é e gosto mais assim. A gente não tem nem tempo de brigar”, explica.
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Zezé Motta é exemplo de luta e garra em pról do povo afro descendente, exemplo para muitas pessoas, estimo sucessos contínuos, obrigado por representar o Brasil internacionalmente, muita saúde, abraços!