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É inacreditável. Só agora, em 2022, aos 78 anos, Zezé Motta estrela uma publicidade de um produto de beleza. Ela foi convidada pela Avon para fazer o comercial de uma base (veja mais abaixo).
E por que ela nunca foi chamada para ajudar a vender cosméticos? Por puro preconceito. “Sou de uma época em que não se admitia de jeito nenhum que o negro era bonito” – observa a atriz, a eterna Chica da Silva.
Zezé lutou a vida inteira contra o racismo e viveu para ver a sociedade começando a mudar, no sentido de demonstrar maior respeito e reconhecimento pela mulher e pelo homem negro.
Agora, ela abriu outra frente de luta, desta vez contra o etarismo ou preconceito de idade.
Leia trecho de um artigo do UOL sobre a estrela:
“Muito emocionada.” Foi assim que Zezé Motta reagiu ao convite para ser garota-propaganda pela primeira vez na vida, aos 78 anos. Apesar de ter mais de cinco décadas de carreira e quase cem papéis no currículo, entre personagens na TV e no cinema, ela nunca havia feito uma campanha publicitária —na década de 1970, chegou a gravar um comercial que nunca foi ao ar, porque a empresa se recusou a ter uma mulher negra representando seu produto.
Agora, ela é o rosto de marcas globais de beleza, como L’Oréal, Natura, Avon, Nivea e Vichy—conquista que comemorou em julho, no Twitter, ao escrever: “Depois de idosa, me descobriram”. Em todas as campanhas, celebra a pele com rugas e o cabelo crespo.
“Eu não tinha mais expectativa em relação a publicidade. Sou de uma época em que não se admitia de jeito nenhum que o negro era bonito. Então, pensava: ‘Vou batalhar para que meus filhos e netos encontrem um mundo diferente, que tenham todas as portas abertas, e não limites, por causa da cor da pele’.
Mantinha isso nas minhas orações. Mas agora que têm surgido vários convites, estou achando maravilhoso. Faz bem para mim”, afirma, em entrevista ao na sala de seu apartamento no Leme, no Rio de Janeiro —imóvel que já pertenceu à escritora Clarice Lispector.
Após anos de luta antirracista e, mais recentemente, contra o etarismo, Zezé se diz orgulhosa das batalhas que travou —e na linha de frente. A atriz foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, na década de 1970, e já atuou como conselheira de Direitos Humanos em Brasília e superintendente da igualdade racial no Rio de Janeiro.
“Fico orgulhosa de mim por ter encarado todas essas lutas e, ao mesmo tempo, poder ajudar outras pessoas, mulheres negras, idosas, até mulheres jovens. Muitas falam para mim: ‘Obrigada’. É gratificante, valeu a pena.”
“Tem essa coisa legal de ser uma pessoa idosa e estar bem, fazendo campanhas. É um incentivo para outras mulheres da minha idade, para que vejam que velho não é trapo, que uma mulher velha é uma mulher. Aliás: idosa. Velha não.” Zezé Motta
Ainda viriam outras batalhas.
Em 1984, Zezé interpretou a paisagista Sônia, na novela “Corpo a Corpo” (Globo). Ela estava feliz por representar um papel fora do espectro de escravidão e trabalho doméstico. “Nada contra fazer a empregada doméstica, mas eu estava um pouco cansada da mesma personagem”, diz.
“Pensava: ‘Será que vou ficar sempre fazendo essa empregada que abre porta, fecha porta e serve cafezinho?’.” Mas o público não aceitou bem a personagem, porque ela fazia par romântico com Marcos Paulo, um ator branco.
Veja o comercial da Avon, o primeiro da grande atriz:
“Foi uma experiência terrível, as pessoas reagiam de maneira muito violenta”, lembra. Ela conta que, enquanto a novela era exibida, Marcos Paulo recebia recados em sua secretária eletrônica que diziam coisas como: “Que nojo te ver beijando aquela negra horrorosa”.
“Uma pessoa chegou a dizer que o Marcos Paulo devia estar precisando de dinheiro para aceitar passar por essa humilhação”, conta a atriz. “As pessoas perdem a noção, enlouquecem.”
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