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Todos os anos, milhares de brasileiros percorrem o Caminho de Santiago de Compostela, iniciando a jornada de centenas de quilômetros na França, em Portugal ou na própria Espanha, onde se encontra o santuário que é o destino final dos peregrinos.
O Brasil ocupa o 13º lugar entre os países com maior número de peregrinos. O país campeão é os Estados Unidos, seguido de Itália, Alemanha, Portugal, França e Reino Unido.
Entre os milhares de caminhantes há muitas mulheres e boa parte delas vai sozinha. O alerta feito por este artigo é para estas mulheres.
Como há longos períodos do Caminho que são ermos, não se encontra ninguém, tem havido relatos de assédio sexual nessas áreas. Algumas delas chegaram a ser perseguidas e temeram pela própria vida.
Leia o artigo publicado por O Globo:
Peregrinas solitárias que percorrem o tradicional Caminho de Santiago relataram experiências de assédio sexual em áreas rurais da Espanha, Portugal e França. De acordo com o jornal inglês The Guardian, nove mulheres declararam terem sido vítimas de assédio durante a jornada ao longo dos últimos cinco anos, incluindo situações em que temeram por suas vidas.
A maioria dos casos relatados ocorreu em trechos isolados da rota, onde as peregrinas ficavam sozinhas. Sete mulheres descreveram encontros com homens que se masturbavam, e algumas chegaram a ser perseguidas.
Uma delas, Rosie, de 25 anos, contou que tentou acionar a polícia ao se deparar com um homem sem calça que estava se masturbando numa trilha florestal em Portugal.
— Foi assustador. Me senti completamente sozinha. O Caminho é tão incrível, porque é tão difícil, tão desafiador fisicamente e mentalmente. Mas há esse elemento extra que as mulheres caminhantes enfrentam, esse problema de segurança enorme, que afeta toda a capacidade de enfrentar esses outros desafios ou aproveitá-los da maneira que outras pessoas fazem — relatou ela, que preferiu manter o sobrenome em anonimato.
Nos últimos anos, a popularidade das várias rotas do Caminho de Santiago disparou, particularmente entre as mulheres. No ano passado, um recorde de 446 mil pessoas fizeram o Caminho, 53% delas mulheres, de acordo com Pedro Blanco, representante do governo central espanhol na Galícia.
A jornalista e escritora Marie Albert, que percorreu o Caminho em 2019, expôs diversas agressões sofridas e criticou a falta de diálogo sobre os riscos que mulheres enfrentam na rota.
— Dizem que essas rotas são seguras para as mulheres, mas falar o contrário ainda é tabu — afirmou, em entrevista ao The Guardian.
Em 2019, enquanto Marie caminhava 700 km pelo norte da Espanha para chegar a Santiago de Compostela, ela enfrentou uma série de agressões. Um homem tentou beijá-la e outro se masturbou na frente dela, segundo a escritora. Um homem a assediou por mensagem de texto e outro a seguiu na rua.
Embora seis das nove mulheres que conversaram com o Guardian tenham registrado os incidentes nas delegacias locais, apenas um dos agressores foi identificado. Um punhado de incidentes ao longo da rota virou manchete nos últimos anos. Em 2018, por exemplo, uma mulher venezuelana de 50 anos foi sequestrada e estuprada por dois homens enquanto caminhava pelo noroeste da Espanha.
Em 2022, a polícia espanhola prendeu um homem acusado de manter uma peregrina alemã de 24 anos contra sua vontade em uma casa e de agredi-la sexualmente. Em 2019, a polícia em Portugal prendeu um homem de 78 anos que foi acusado de sequestrar e tentar estuprar uma peregrina da Alemanha.
Preocupações com a segurança das peregrinas vieram à tona em 2015, depois que a americana Denise Thiem desapareceu em uma área rural da província de León, na Espanha. Seu desaparecimento levou vários peregrinos a se apresentarem com suas próprias histórias de ameaças ou assédio, antes que um tribunal condenasse um homem espanhol em 2017 a 23 anos de prisão pelo assassinato de Thiem.
Em resposta às denúncias, o governo espanhol tem ampliado suas iniciativas de segurança. Em 2021, uma campanha foi lançada para oferecer pontos de assistência em 1.600 locais na Galícia, onde peregrinas podem acessar orientações sobre como acionar serviços de emergência.
No entanto, Johnnie Walker, um dos administradores por trás do Camino de Santiago All Routes Group, um fórum de mídia social que conta com mais de 450 mil membros, afirma que há muito tempo existe uma frustração com a falta de estatísticas, mesmo com a intensificação dos esforços para combater esses incidentes.
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— À medida que o número de peregrinos cresceu, também cresceram os relatos de homens se expondo aos peregrinos. Em resposta, a Guardia Civil intensificou as patrulhas em várias rotas — disse Walker.
Seu fórum há muito tempo aconselha os peregrinos na Espanha a baixar o aplicativo AlertCops , que permite que os caminhantes entrem em contato com a polícia diretamente.
— Sempre há um equilíbrio a ser alcançado entre alertar as mulheres e causar alarme. No entanto, alguns de nós sentimos que essa questão agora precisa ser abordada de forma mais enérgica e coerente em todo o país — acrescentou.