50emais
A universitária Patrícia Lunares jamais imaginou que ganharia notoriedade como aluna do curso de biomedicina da Unisagrado, em Bauru, interior de São Paulo. Muito menos que o motivo de sua fama seria os seus 40 anos.
Os comentários preconceituosos de três jovens colegas de Patricia em relação à sua idade – ” “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada” – ganharam as redes sociais e continuam causando muita indignação.
A mídia não deixou passar e denunciou esse caso explícito de preconceito de idade – etarismo, idadismo, ageismo – protagonizado por estudantes de curso superior. A atitude das jovens ganhou tamanha repercussão que, pelo menos uma delas pediu desculpas a Patrícia. E, no final, as três desistiram de fazer o curso de biomedicina.
Além do apoio dos outros colegas, Patrícia também recebeu a solidariedade de outras universitárias com mais de 40 anos, de várias partes do Brasil.
Leia a reportagem de Luís Ricardo da Silva e Heytor Campezz para o portal G1:
Universitários com mais de 40 anos de várias partes do país decidiram criar uma “corrente do bem” na internet após o caso de etarismo contra uma estudante em Bauru, no interior de São Paulo.
A ação começou depois que uma caloura de engenharia, de 42 anos, natural de Minas Gerais, publicou um relato pessoal no Twitter sobre o episódio. A postagem, feita no domingo (12), já soma quatro milhões de visualizações e quase três mil comentários até a manhã desta quarta-feira (15).
Ao G1 , Laura Cerqueira disse que fez a publicação porque ficou revoltada com a hostilização de Patrícia Linares, a universitária que foi debochada, em um vídeo, por três colegas de turma pelo fato de ter mais de 40 anos.
“Imagino como tenha sido desagradável [o caso da Patrícia]. Dizer que uma pessoa de 40 anos deveria estar aposentada e não em uma escola é uma mistura de preconceito com falta de empatia”, diz.
Na publicação, a mineira escreveu: “Para as pirralhas da faculdade de Bauru que debocharam do colega de 40 anos. Prazer! Laura, 42 anos, arquiteta, cursando 2ª faculdade”.
Laura é de Muriaé, cidade com pouco mais de 100 mil habitantes que fica no sudoeste de MG. Aos 20 anos, ela se mudou para Belo Horizonte para estudar arquitetura em uma universidade privada, só que, ao longo do caminho, teve que interromper a graduação em vários momentos.
“Quando eu estava no 8º período, totalmente insatisfeita, resolvi pedir transferência para outra universidade. Perdi tudo que tinha cursado e voltei para o 1º período. Então, naturalmente, eu já tinha uma idade diferente da dos demais. Mas isso nunca foi problema para mim”, diz.
Mais de 20 anos depois, por motivação profissional, Laura decidiu iniciar a segunda graduação, desta vez em engenharia. E apesar da disparidade de idades entre os alunos da turma, o clima é de respeito, segundo ela. “Temos diferenças, mas isso nunca foi um problema. Temos alunos de 20, 30, 40. Todos se respeitam. E uns aprendem muito com os outros. Cada fase traz suas características”, conta.
“A idade não me define fisicamente, mas na maturidade, sim. A diferença de estar em um novo curso aos 42 anos me faz absorver muito mais conteúdo do que antes. Hoje, já tenho uma bagagem de conhecimento e experiências que só contribuem”, diz.
‘A vida é o agora’
Na esteira de Laura, vários estudantes aproveitaram a oportunidade para contar suas histórias de vida. Nos comentários da thread, como é chamada uma sequência de publicações na rede social, um dos relatos com mais interações é o de Ana Rubia Freitas, de 41 anos.
Ela decidiu se juntar à mineira poucas horas depois do relato da mulher. “Comentei aquela postagem por achar absurdo uma mulher sofrer por ‘não’ estar na faixa etária que a sociedade definiu para alunos universitários”, diz.
Ana é natural de Brasília e trabalha como professora na rede pública há 20 anos. Formada em história e pedagogia, ela decidiu retornar ao ensino superior durante a pandemia, momento em que passou a refletir sobre a carreira.