Ana Maria Cavalcanti*
50emais
Vou com frequência a Londres, cidade onde vivi 16 anos. Conheço como a palma da mão os corredores do aeroporto de Heathrow e seus procedimentos. Mas desta vez, vivi uma experiência diferente. Para começar, cheguei de bengala e fui encaminhada, gentilmente, para uma fila mais rápida. Logo estaria na casa de uma amiga. Depois de duas semanas, voltei ao Brasil. É desta volta que quero falar.
Logo ao desembarcar do trem expresso que liga a estação de Paddington, na região central de Londres, ao aeroporto de Heathrow, o mais movimentado da Europa, em 15 minutos, dois funcionários do aeroporto vieram me ajudar a tirar minhas duas malas do trem. Em seguida, perguntaram se eu precisava de alguma assistência. Não sabia bem do que se tratava, mas estava claro que iriam ajudar a chegar ao portão de embarque. Aqui começou a aventura.
Primeiro chamaram um outro funcionário que me colocou em uma cadeira de rodas. Passamos por alguns corredores e, como já tinha feito o check in online, tive apenas que pesar minhas malas e mostrar meu certificado de vacinação. Eu sempre sentadinha, no conforto de uma cadeira de rodas. Ai veio uma uma jovem também indiana, simpática que assumiu o comando da operação.
Andamos mais um pouco e paramos no espaço de assistência, onde já estavam dezenas de pessoas, todas esperando para embarcar.
Enquanto esperava, olhei em volta: muitas africanas com trajes típicos, senhoras e senhores em idade avançada que não andavam mais. Outras, como eu, precisavam mais de ajuda com a bagagem de mão para chegar até o avião. Uma delas, sentada a meu lado me impressionou. Não deveria ter mais que metro e meio de altura e, sentada, os pés nem tocavam no chão, parecia uma criança. Magrinha, bem vestida, branca de olhos azuis muito vivos, deveria ter uns 90 anos, ia para a Alemanha, viajando sozinha, como eu.
O tempo foi passando, gente chegava, gente saia. E ninguém vinha me apanhar. Fui ficando aflita e por duas vezes perguntei ao funcionário que gerenciava o local, o que estava acontecendo. Queria ter certeza de que não ia perder meu vôo.
Da última vez que olhei para o painel de embarques, me assustei: meu vôo já estava fechado. Mas o funcionário dizia para eu não me preocupar. Dali a pouco, chegou um daqueles carrinhos movidos a eletricidade que andam para cima e para baixo nos aeroportos para apanhar mais passageiros. Finalmente tinha chegado a minha vez, entrei, entraram mais quatro pessoas. Nossa bagagem de mão foi colocada em um compartimento ao lado.
Fui deixada dentro do avião. A distância de onde eu estava, um reservado ao lado do Duty Free, para o portão 42 de onde sairia meu avião, era imensa. Leva 20 minutos para ser percorrida a pé, segundo aviso no aeroporto, o que corresponde a mais de um quilômetro de distância. Um cansativo percurso até para os mais jovens. Imagine eu, com 77 anos, andar todo o caminho carregando uma maleta com 10 quilos!
Fui deixada dentro do avião. Jantei e depois fui deitar em quatro assentos que estavam vazios. Cheguei a São Paulo, com o dia amanhecendo. Gosto de viajar e gosto de voltar para minha casa. Cheguei cansada, mas feliz da vida. Bom saber que, mesmo andando devagar, ainda posso ir longe.
*Ana Maria Cavalcanti é jornalista. Trabalhou durante muitos anos na BBC, em Londres