Faltando menos de 48 para a entrada de um novo ano, foi divulgada a notícia que pegou de surpresa boa parte dos admiradores de Lya Luft. É que nem todos sabiam que ela sofria de um câncer de pele agressivo, diagnosticado há apenas sete meses, quando a doença já estava em fase de metástase. Gaúcha, Lya morreu em Porto Alegre. Ela escreveu 31 livros. Era admirada também como tradutora de escritores como Vigina Woolf, Doris Lessing e Thomas Mann. O 50emais postou várias das crônicas dela tratando de envelhecimento, um de seus assuntos recorrentes. Com o artigo abaixo, publicado por O Globo, prestamos nossa homenagem a Lya Luft.
Leia:
A escritora gaúcha Lya Luft faleceu nesta quinta-feira (30), aos 83 anos, em Porto Alegre. A morte da autora, que lutava contra um câncer de pele, foi confirmada ao GLOBO por amigos de sua família. Lya fora diagnosticada com um melanoma, um câncer de pele agressivo, havia sete meses. Descoberto já em estado metastático, o câncer já comprometia outros órgãos. Lya chegou a ser internada no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, mas teve alta em 21 de dezembro. O GLOBO apurou que a famílai pretende se despedir da escritora em uma cerimônia reservada.
Autora de 31 títulos, como “O quarto fechado”, “As parceiras” e “Perdas & ganhos”, Lya foi, durante anos, colunista da revista Veja. A escritora era viúva do dicionarista Celso Luft, autor do dicionário que leva seu sobrenome. Publicou seu primeiro livro em 1964, a antologia de poemas “Canções de liminar”. Em 1972, lançou outro livro de poesia, “Flauta doce”. Estreou na prosa em 1978 com um volume de contos: “Materia do cotidiano”, publicado pela Nova Fronteira. Encorajada pelo editor Pedro Paulo Sena Madureira, enveredou pelo romance e, em 1980, lançou “As parceiras”, no qual a narradora Anelise se vê às voltas com os fantasmas da avó, das tias, da irmã e de uma amiga e com a história própria família, marcada pela loucura. No ano seguinte, publicou “A asa esquerda do anjo”, que acompanha a filha de uma rígida família alemã do Sul do Brasil.
Em 2001, Lya recebeu o prêmio da União latina pela tradução de “Lete: arte e crítica do esquecimento”, do filólogo alemão Harald Weinrich. Em 2013, o romance “O tigre na sombra” arrematou o prêmio da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Amiga de Lya, a escritora Cintia Moscovich disse ao GLOBO que o Brasil perde uma de suas maiores romancistas em atividade.
— Lya era uma linda romancista, uma linda pensadora. É parte do grande acervo da literatura brasileira, a qual ela só engradeceu. Era uma narradora irônica, cínica e muito humana que construiu personagens femininas memoráveis, com vigor, força e profundidade. Perversa como Nelson Rodrigues, soube trbalhar muito bem o jogo intrincado e vingativo das relações familiares.
Em nota, a Agência Riff, que representava a autora, afirmou que “sua obra permanece, como uma extensão de sua vida, para que não nos esqueçamos de seu legado”.
Lya nasceu em 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, numa família de ascendência alemã. Leitora desde a infância, aos 11 anos, Lya já recitava poemas de Goethe e Schiller. Estudou pedagogia e letras anglo-germânicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) o obteve os títulos de mestre em linguística pela Faculdade Porto-Alegrense (FAPA) e doutora em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também deu aula. Traduziu escritores como Vigina Woolf, Rainer Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing e Thomas Mann.
Aos 25 anos, casou-se com Celso Pedro Luft, que ela conheceu durante uma prova de vestibular, para a qual se atrasara. O escritor Erico Verissimo e sua esposa, Mafalda, foram padrinhos do casamento. Em 1985, separou-se de Luft para viver com o psicanalista Hélio Pellegrino, que morreu em 1988. Em 1992, voltou a viver com Luft, de quem ficou viúva em 1995. Com Luft, Lya teve três filhos: Susana, André e Eduardo. André faleceu em 2017, aos 51 anos, vitimado por uma parada cardíaca enquanto surfava na Praia do Moçambique, em Santa Catarina.
Além dos filhos, Lya deixa o marido, o engenheiro Vicente de Britto Pereira, e sete netos.
Veja também:
Lya Luft: Por que implicamos com as palavras “velho” e “velhice”
Lya Luft: “Deixem a gente ter o privilégio de envelhecer em paz”