Maya Santana, 50emais
É impressionante como na peça “Através de Iris” a atriz Nathalia Timberg, 89, fica parecida com a novaiorquina Iris Apfel, a quase centenária que hoje é ícone da moda na terceira idade. Absolutamente livre para se vestir, ela junta peças impensáveis e compõe o visual que quer projetar, normalmente bem exótico. Chique e elegante, ela entrou para o mundo das celebridades quando já tinha 84 anos. Antes, trabalhou como decoradora, inclusive da Casa Branca, em Washington. A história de como essa novaiorquina virou peça de teatro no Brasil -estreou primeiro no Rio. Agora, chega a São Paulo – é contada neste artigo de Duda Leite, para a revista Vogue.
Leia:
Nathalia Timberg é low-profile (discreta). Iris Apfel é o oposto. “More is more, less is a bore” (mais é mais, menos é chato), costuma dizer. Mas, apesar das diferenças, essas duas grandes damas têm muito em comum: ambas são nonagenárias ativas, criativas, elegantes, livres e cheias de energia. “Somos estrelas geriátricas”, diverte-se Nathalia, que encarna a fashionista nova-iorquina em Através da Iris. Escrito por Cacau Hygino, com direção de Maria Maya, o espetáculo estreia dia 18 no Teatro Faap, em São Paulo, após uma temporada de sucesso no Teatro da Aliança Francesa, no Rio de Janeiro, no ano passado.
Na peça, Iris (Nathalia) está sozinha em seu apartamento dando uma entrevista sobre sua vida e obra para uma equipe de reportagem que nunca é vista. “Já conhecia a Iris antes. Sou suficientemente antenada para saber quem ela é”, conta a atriz. “Fiquei encantada com sua figura libertária. Ela conseguiu se tornar um ícone da moda mesmo sem ser uma estilista. E muito orgulhosa dos seus 97 anos. É uma pessoa absolutamente ligada à sua época.”
Empresária e designer de interiores – só a Casa Branca ela redecorou nove vezes – e cofundadora de uma tradicional empresa de tecidos (a Old World Weavers), Iris virou darling do mundo da moda aos 84 anos, quando foi tema de uma exposição, em 2005, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York: Rara Avis: Selections from the Iris Apfel Collection a transformou numa superstar fashion. Iris já chegou a ser comparada à mítica editora de moda Diana Vreeland, graças ao seu gosto exótico, fora dos padrões, e sua capacidade de misturar elementos aparentemente desconexos. Por sinal, Vreeland também foi assunto de uma peça nos Estados Unidos chamada Full Gallop, em 1993.
“Me chamou muito a atenção quando ela ganhou essa exposição no Met, mesmo sem ser estilista”, relembra Nathalia. “Foi graças à sua maneira de estar no mundo que Iris construiu sua fama. Ela tem esse talento para elaborar em si mesma uma espécie de escultura humana. Sempre há muita harmonia entre as peças que mistura em seus looks. Ela pega uma roupa da Dior e bota um artefato hindu em cima e dá certo. Ela realmente construiu uma personagem.”
A produção de moda da peça ficou a cargo de Tatiana Brescia (que assinou o styling de Avenida Brasil e da série Dalva e Herivelto: Uma Canção de Amor) e mostra Nathalia comum look bem “apfeliano”: um enorme casaco de fake fur vermelho-cereja, os enormes óculos redondos e, claro, muitos acessórios – marcas registradas de Iris na moda e fora dela.
Em seu perfil no Instagram, com mais de 1,1 milhão de seguidores, a fashionista comentou sobre o espetáculo, dizendo estar muito feliz com a homenagem vinda do Brasil. E ainda foi bem-humorada ao pedir desculpas à Nathalia por ter ficado parecida demais com ela: “Meus pêsames”, declarou ironicamente em seu perfil.
Pergunto se o estilo extravagante de Iris vai influenciar no de Nathalia. “A coisa mais incrível de ser atriz é poder entrar em personalidades que são muito diferentes da minha”, diz. “Por mais que seja uma personagem, sempre deixa uma marca. De todas as atividades humanas, a que mais leva ao profundo entendimento do outro é a minha. Dito isto, não vou mudar o estilo de me vestir.”
Fora dos palcos, Nathalia também já tem roteiro traçado. Está escalada para Dias Felizes, a próxima novela das 21h da Rede Globo, de Walcyr Carrasco, prevista para ir ao ar depois de O Sétimo Guardião. Qual é a sensação de poder celebrar seus 90 anos em plena atividade? “Você está achando incrível o fato de eu ter 90 anos, mas eu ainda sou uma menina: a Iris tem 97!”, diverte-se. “Não é nenhum milagre estar fazendo o que eu faço. Estou programada até 2021, isto é, se eu sobreviver.”
Teatro Faap: Rua Alagoas, 903, São Paulo. Até 10/3