Pedro Augusto L. Costa, de Seattle
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“Eu só visto o Channel No 5″” disse a esplendorosa Marilyn Monroe quando perguntada o que vestia na cama. Tamanha franqueza aterrorizou o mundo em 1952, quando a criadora do perfume mais famoso de todos os tempos – 136 dólares o vidrinho na Macy’s, cerca de 800 reais – a designer e empresária francesa Gabrielle Bonheur Chanel, a Coco Chanel, estava no auge da fama. Dali para diante ela teria virado, como muitos de nós, uma commodity, uma idosa que passa despercebida na multidão, depois de ter revolucionado a moda nos quatro cantos do mundo, trazendo leveza, praticidade e, muito importante, charme para as mulheres. Chanel costumava dizer: “A mulher tem a idade que merece”.
Órfã, paupérrima, criada em orfanato, ex-cantora de boate e filha de pai traficante, Coco Chanel tinha de tudo para dar errado. Mas o que chama atenção, como diz o general norte-americano Stanley McChrystal, o homem que ganhou e perdeu muitas guerras, em seu novo livro “Mastering Risks”, foi que ela poderia dar errado na velhice, sozinha e esquecida, embora tenha sido desejada e cortejada por reis (e também algumas rainhas), além de ter tido um caso famoso com o compositor Igor Stravinsky
Aos 70 anos, quando muita gente com óculos na cara pergunta “onde estão meus óculos”, ela volta triunfantemente ao mundo da moda, pois, segundo ela, sua marca já estava na boca do povo e tinha virado uma commodity. Era preciso uma virada. Voltou inovando completamente o mundo da moda, trazendo juventude e graça às roupas da época. Nos perfumes, Catherine Deneuve foi escolhida como a nova face da Chanel. Ela assumiu todos os riscos. A imprensa francesa, por exemplo, caiu de pau na nova coleção, sempre lembrando a Segunda Guerra Mundial(1945=1949), quando foi acusada injustamente de colaboradora dos nazistas.
Grande mulher. Sua história foi contada em diversas biografias, em musicais da Broadway, um deles estrelado por Katharine Hepburn, e na TV norte-americana, na pele de Shirley Maclaine, representando sua volta triunfal em 1954. Na história das celebridades que fizeram sucesso perto ou durante a idade dourada, estão Samuel L. Jackson, Sam Walton (do Walmart), Henry Ford, Charles Darwin e muitos outros. A atriz americana Betty White, por exemplo, está celebrando 99 anos, e ainda está na ativa.
As frases de Chanel são cantadas até hoje em prosa e verso. “Simplicidade é a chave da verdadeira elegância”, ou “uma garota deveria ser duas coisas: classuda e fabulosa” ou a melhor: “para ser insubstituível, é preciso sempre ser diferente”. Lições como estas nos inspiram a rodar a baiana na nossa provecta idade, fazendo a gente esquecer as dores na coluna, a vista cansada e a falta de paciência para muita coisa. Se bem que, hoje em dia, com a graça de Deus e o prolongamento da existência, já estão chamando os de 60 a 70 anos de gente de meia idade.
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Coco Chanel, como todo mundo, morreu. Em seu caso, aos 87 anos, numa espaçosa suíte do Ritz de Paris, onde morou por 30 anos. Muito diferente do lúgubre ambiente do orfanato, onde aprendeu a costurar e fez sucesso ao criar um ornamento de jersey – considerado ordinário, à época, mas que depois a consagraria. É considerada uma das 100 pessoas mais importantes do Século 20, traduzindo seu design em roupas “casual chic” ou em jóias, bolsas, chapéus e, naturalmente, perfumes. Ela dizia: “A moda é como a revolução – só entra nas nossas vidas depois de ir para as ruas”. Suas últimas palavras para a governanta foram : “é assim que se morre”. Ela viveu dias difíceis, dias gloriosos, mas viveu intensamente. Preferiu ter uma vida interessante do que uma vida feliz. Afinal, como se diz, até a hora da morte, é tudo vida.
Veja a reportagem de Beth Lima para a TV Globo sobre Chanel:
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