50emais
A catarinense Sônia Bridi é uma das jornalistas mais intrépidas, mais respeitadas e admiradas do Brasil. O avançar da idade tem servido como estímulo para suas novas e grandes reportagens, dessas de fôlego, que só os verdadeiros repórteres, como ela, são capazes de fazer.
Seu talento acaba de ser, uma vez mais, reconhecido. O documentário “Vale dos isolados: o assassinato de Bruno e Dom”, com direção de Sônia e roteiro de Cristina Krist, recebeu, em Bogotá, na Colômbia, o Prêmio Gabo de Jornalismo, na categoria imagem.
“É um reconhecimento importante para lembrar que os assassinos ainda não foram julgados. Que os responsáveis por desmontar a Funai e os sistemas de proteção do Vale do Javari não foram levados à Justiça”, diz ela, nesta reportagem de Eduarto Vanini para O Globo.
Sônia também revela sua rotina de exercícios direcionados, segundo ela, mais ao trabalho do que a fins estéticos. A cada semana, faz dois dias de musculação, dois de exercícios de alta intensidade (HIIT) e dois de ioga.
“Quando tinha 30 anos, achava que, com 40, já não estaria no vídeo. Depois, pensei que isso aconteceria aos 50,” conta a jornalista, completando: “Agora, me pego não só fazendo reportagens como, há dois anos, subi o Pico da Neblina.” (o mais alto do Brasil, com quase 3 mil metros de altitude).
Leia:
Acostumada a transpor desafios em reportagens, Sônia Bridi ficou profundamente abalada com o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, em 2022. “Eram dois conhecidos meus, fazendo um trabalho na Amazônia, numa região onde eu sempre estava. É evidente que eu me senti no lugar deles”, comenta.
No ano seguinte, a visita ao Território Yanomami, onde testemunhou a destruição causada pelo garimpo ilegal, trouxe ainda mais angústia. “Tenho um neto que, na época, estava com 4 anos e pesava quase 20 quilos. Então, chego lá, e pego uma criança de 6 anos com 9 quilos. Você vê aquele olhar catatônico, de fome e desnutrição… Passava a noite acordada, pensando em como ajudar.”
Entre tantas notícias ruins, é difícil esperar que uma das maiores referências na cobertura da pauta ambiental para a TV passe incólume pelo rastro de destruição que assola o país e o mundo. Mas o antídoto, ela diz, vem do próprio ofício: “Não cheguei a procurar ajuda psicológica, porque me enfiei no trabalho para terminar o documentário. A minha terapia é tentar fazer disso uma coisa produtiva”.
Leia também: Amazônia: brasileiro não conhece seu grande tesouro
O doc em questão é “Vale dos isolados: o assassinato de Bruno e Dom”, com direção de Sônia e roteiro de Cristina Krist, que acaba de receber, em Bogotá, o Prêmio Gabo de Jornalismo, na categoria imagem. “É um reconhecimento importante para lembrar que os assassinos ainda não foram julgados. Que os responsáveis por desmontar a Funai e os sistemas de proteção do Vale do Javari não foram levados à Justiça”, diz, ao elencar temas abordados na produção lançada no Globoplay.
Veja o trailer:
Nascida em Macieira, na época um distrito de 500 habitantes em Santa Catarina, e criada em Caçador, no mesmo estado, Sônia observa a natureza com curiosidade desde criança, quando passava longos minutos olhando para as nuvens. Um comportamento que jamais abandonou: ao receber a reportagem em sua casa, no Rio, convidou a equipe para apreciar um grupo de pássaros da espécie saíra-sete-cores, que ela reconheceu por causa do canto.
Mas foi na Rio 92, já como repórter do “Jornal Nacional”, da TV Globo, que entendeu que esse seria um caminho profissional definitivo. “Tive contato com a ciência e entendi o que era o efeito estufa e quais seriam as consequências se não fizéssemos algo”, recorda-se. “Já me perguntaram se isso tem a ver com militância. Respondo que não. É um julgamento de relevância jornalística.”
Leia também: A desventura da menina vinda das entranhas da Amazônia
Tema que, aos 60 anos, persegue sem perder o fôlego, assegurado pela rotina de exercícios direcionados, segundo ela, mais ao trabalho do que a fins estéticos. A cada semana, faz dois dias de musculação, dois de exercícios de alta intensidade (HIIT) e dois de ioga. “Quando tinha 30 anos, achava que, com 40, já não estaria no vídeo. Depois, pensei que isso aconteceria aos 50. Agora, me pego não só fazendo reportagens como, há dois anos, subi o Pico da Neblina.”
Uma entrega que surpreende até colegas de longa data. Diretor do “Fantástico”, Bruno Bernardes convive com Sônia há 12 anos e diz que jamais deixou de admirar o profissionalismo com que a jornalista mergulha nas apurações. “Ela passa a autoridade, a credibilidade de quem estudou e conhece o assunto nos pormenores”, diz. “É aluna aplicada: disseca a pauta, revira todos os ângulos e apresenta ao público um texto simples, mas não banal. Sônia e Paulo jamais subestimam o telespectador.”
A menção ao cinegrafista Paulo Zero, com quem Sônia é “juntada” há 28 anos (“Nunca achamos que um papel faria diferença”, diz), tem a ver com a parceria que se estende ao nível profissional há mais de duas décadas, quando começaram a produzir reportagens juntos.
“Muita gente me pergunta: ‘Como consegue trabalhar com a pessoa com quem é casada?’. E fico pensando: ‘Como é possível casar-se com alguém com quem não trabalharia?’.” O segredo? “Brigamos, discutimos, mas nunca ficamos dez minutos de mal. Toda relação tem aquele momento em que você faz uma coisa que o outro não gosta. Mas tentamos construir em cima disso, em vez de criar mágoas.”
Leia também: EUA premiam brasileira que combate trabalho escravo