O trabalho mostrando o quanto a variante Delta, que surgiu na Índia, mostra-se mais perigosa e diferente de todas as outras é do órgão nos Estados Unidos de controle e prevenção de doenças. E dá a medida do quanto devemos continuar usando máscara, lavando as mãos com frequência e usando alcoól gel, além de manter distância das outras pessoas. O trabalho revela que a Delta é muito mais contagiosa e pode levar a doenças mais graves. Segundo o ministério da Saúde, 247 casos da covid-19 causados por essa variante foram notificados no Brasil até esta quinta-feira, 29 de julho.
Leia o artigo publicado por O Globo:
A variante Delta é muito mais contagiosa, tem maior probabilidade de romper as proteções oferecidas pelas vacinas contra a Covid-19 e parece causar mais doenças graves do que todas as outras versões conhecidas do coronavírus. É o que mostra uma apresentação interna divulgada nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA a que o New York Times teve acesso.
A variante, identificada pela primeira vez na Índia e registrada também no Brasil, é mais transmissível do que os vírus que causam MERS, SARS, Ebola, resfriado comum, gripe sazonal e varíola, e é tão contagiosa quanto a catapora, segundo a cópia do documento dos CDC. A agência deve publicar dados adicionais sobre a Delta ainda nesta sexta-feira.
O próximo passo imediato para a agência é “reconhecer que a guerra mudou”, enfatiza o documento. O conteúdo foi divulgado pela primeira vez pelo Washington Post na noite de quinta-feira.
Maior probabilidade de doenças graves
Rochelle P. Walensky, diretora da agência, já havia reconhecido na terça-feira que as pessoas vacinadas que contraem as chamadas infecções invasivas da variante Delta carregam tanto vírus no nariz e garganta quanto as pessoas não vacinadas e podem espalhá-lo com a mesma rapidez, embora com menos frequência. Mas o documento interno apresenta uma visão mais ampla e ainda mais preocupante da variante.
A infecção pela Delta também pode ter maior probabilidade de levar a doenças graves, observou o documento. Estudos do Canadá e da Escócia descobriram que as pessoas infectadas por ela têm maior probabilidade de serem hospitalizadas, enquanto pesquisas em Cingapura indicaram que é mais provável que necessitem de oxigênio hospitalar.
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Ainda assim, os números do CDC mostram que os imunizantes são altamente efetivos na prevenção de formas graves da doença, hospitalização e morte para as pessoas vacinadas, disseram os especialistas.
— No geral, a Delta é a variante problemática que já sabíamos que era — disse John Moore, virologista da Weill Cornell Medicine, em Nova York. — Mas o céu não está caindo e a vacinação ainda protege fortemente contra os piores resultados.
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O documento dos CDC se baseia em dados de vários estudos, incluindo uma análise de um surto recente em Provincetown, em Massachusetts, que começou após as festividades do feriado de 4 de julho na cidade. Na quinta-feira, o surto havia crescido para 882 casos. Cerca de 74% foram vacinados, disseram autoridades locais de saúde.
‘Mais cuidado’ com flexibilizações no Brasil
Segundo o Ministério da Saúde, até 29 de julho, 247 casos da variante Delta foram notificados no Brasil e 21 óbitos foram confirmados. “Os dados são atualizados a partir das notificações das secretarias estaduais de saúde e são dinâmicos”, informou, em nota.
O virologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Amilcar Tanuri afirma que, com base nos dados dos CDC, será preciso ter mais cuidado com as medidas de flexibilização e uso de máscaras para evitar a transmissão do vírus no Brasil. Mas destaca: “a boa notícia” é que as vacinas continuam efetivas para bloquear a mortes e agravamento.
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— Os dados mostram que mesmo os vacinados, se forem infectados com a Delta, são mais infecciosos do que com as outras formas do vírus. Não é um problema de quem está vacinado e protegido contra a hospitalização, mas para a comunidade. Porque essa pessoa pode ter contato com pessoas idosas, com outras doenças, para quem a Delta pode ter um efeito mais devastador — explica o virologista.
A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Ethel Maciel avalia que os dados “mudam a forma como estávamos pensando a Covid-19”. Ela explica que a doença será mais parecida com a influenza e menos com o sarampo, por exemplo, pois a vacina vai diminuir bastante a gravidade, mas não a transmissão, ao contrário do que estava sendo observado antes da variante Delta.
— Estávamos observando que os vacinados tinham uma diminuição de transmissão. Mas os novos dados dos EUA mudam o jogo. O vírus não vai embora. Vamos precisar de capilaridade de testagem e sistemas de vigilância epidemiológica fortes, mesmo após 70% da população vacinada. E precisamos ter homogeneidade na vacinação, principalmente garantir a segunda dose dos idosos e grupos com comorbidades — diz a pesquisadora.
Com a queda do número de óbitos pela Covid-19, as principais capitais brasileiras ensaiam a flexibilização de medidas de distanciamento. Tanuri destaca que será preciso acompanhar “com muito cuidado” o espalhamento da Delta e a incidência da doença para se necessário retomá-las. Maciel avalia que maiores flexibilizações, como o anúncio no Rio de Janeiro da reabertura da cidade com uma celebração em setembro e previsão de liberação de máscaras a partir de novembro como “irresponsabilidade diante de incertezas que não podemos controlar”.
Delta acende alerta nos EUA
Até quinta-feira, havia 71 mil novos casos de Covid-19 por dia, em média, nos EUA. Os novos dados sugerem que as pessoas vacinadas estão espalhando o vírus e contribuindo para esses números — embora provavelmente em um grau muito menor do que os não vacinados.
Walensky chamou a transmissão por pessoas vacinadas de um evento raro, mas outros cientistas sugeriram que pode ser mais comum do que se pensava.
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As novas diretrizes de uso de máscara da agência para vacinados nos EUA, apresentadas na terça-feira, foram baseadas nas informações apresentadas no documento. Os CDC recomendaram que as pessoas imunizadas usem máscaras em ambientes fechados em locais públicos localizados em comunidades com alta transmissão do coronavírus.
Mas o documento interno sugere que mesmo essa recomendação pode não ser suficiente. “Dada a maior transmissibilidade e a cobertura atual da vacinação, o uso de máscara universal é essencial”, afirma o relatório.
Os dados da agência sugerem que pessoas com sistema imunológico enfraquecido devem usar máscaras mesmo em locais onde não haja alta transmissão do vírus. O mesmo deve acontecer com as pessoas vacinadas que estão em contato com crianças pequenas, adultos mais velhos ou pessoas mais vulneráveis.
Existem cerca de 35 mil infecções sintomáticas por semana entre 162 milhões de americanos vacinados, de acordo com dados coletados pelos CDC a partir de 24 de julho, que foram citados na apresentação interna. Mas a agência não rastreia todas as infecções leves ou assintomáticas, então a incidência real pode ser maior.
A infecção com a variante Delta produz uma quantidade de coronavírus nas vias aéreas dez vezes maior do que a observada em pessoas infectadas com a variante Alfa, que também é altamente contagiosa, observou o documento. E a quantidade de vírus em uma pessoa infectada com Delta é mil vezes maior do que a observada em pessoas infectadas com a versão original do coronavírus, de acordo com um estudo recente.
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