Tenho sobrinho de 42 anos que teve Covid-19 há cerca de seis meses. Recuperou-se. Mas, desde então, tem feito verdadeira peregrinação por consultórios de médicos das mais variadas especialidades. Ele sente dor de cabeça, cansaço e mais alguns incômodos sintomas. Na entrevista para o 50emais que deu à jornalista Sandra Passarinho, a Dra. Margareth Dalcomo, cientista da Fiocruz, disse que está surgindo uma nova modalidade médica: a do especialista em pacientes pós-covid. Este artigo, publicado na Folha pelo Dr.Dráuzio Varella, confirma tudo isso. E enumera 50 efeitos colaterais da doença: Fadiga, dores no corpo, fôlego curto ou dificuldade para respirar, dificuldade para concentrar a atenção, falhas de mémória, tontura, dores nas juntas e muitas mais. Os participantes de um estudo, citado pelo Dr. Dráuzio, se queixam de que “os médicos menosprezam suas queixas e não estão preparados para tratá-los”
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Que doença estranha. Cerca de 20% dos infectados não sentem nada daqueles que jogam o cristão na cama, sem coragem para levantar. Ao mesmo tempo, alguns precisam ser hospitalizados e depender de vagas nas UTIs para sobreviver que passaram vários dias ligados a aparelhos de ventilação mecânica demoram meses para recuperar as condições físicas de antes. Os demais teriam evolução benigna, com sintomas que regrediriam em até duas semanas.
A experiência, no entanto, tem demonstrado que entre 10% e 30% dos que se recuperaram apresentam queixas persistentes, durante semanas ou meses.
Os especialistas calculam que alguns desses quadros podem adquirir características de cronicidade, semelhantes aos descritos na síndrome da fadiga crônica que se instala depois de determinadas infecções virais.
Há duas teorias para explicar esses casos:
1 – partículas virais remanescentes persistiriam nos pulmões, nos músculos, no cérebro e nas mucosas do aparelho digestivo mantendo ativo o processo inflamatório nesses locais;
2 – certos elementos do sistema imunológico hiperestimulados pela presença do vírus agrediriam os tecidos do próprio organismo.
Nessas pessoas, há dúvidas sobre o efeito das vacinas. Até agora, os dados parecem mostrar que, na maioria delas, os sintomas regridem mais rapidamente depois da vacinação, enquanto que em outras eles ficam inalterados ou pioram.
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O estudo Survivor Corps, conduzido na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, tem acompanhado pela internet pacientes que tiveram Covid, com a finalidade de avaliar a duração dos sintomas que constam em uma lista apresentada pelos pesquisadores. Os participantes podem acrescentar outros que não foram citados na relação.
As principais conclusões foram as seguintes:
- Os sintomas presentes nos casos de longa duração são mais comuns do que os enumerados pelos Centers for Disease Control, dos Estados Unidos. Os participantes se queixaram de haver desencontro entre seus problemas de saúde e as informações disponíveis nos órgãos oficiais.
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Enquanto o impacto da doença nos pulmões e no sistema cardiovascular tem chamado mais atenção, os resultados sugerem que o cérebro, os olhos, a pele e a musculatura apresentam afecções frequentes que comprometem a qualidade de vida dos que se recuperam da doença.
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Cerca de 26% dos que apresentam Covid prolongada se queixam de dores crônicas, instaladas depois do quadro inicial, principalmente nos músculos, nas articulações ou espalhadas pelo corpo.
- Na maior parte das vezes, são dores difíceis de controlar.
- Os participantes do estudo se queixam de que os médicos menosprezam suas queixas e não estão preparados para tratá-los.
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A lista dos 50 sintomas mais comuns relatados ao Survivor Corps é extensa. Por ordem de frequência, são os seguintes:
Fadiga, dores no corpo, fôlego curto ou dificuldade para respirar, dificuldade para concentrar a atenção, incapacidade para praticar atividade física, dor de cabeça, dificuldade para dormir, ansiedade, problemas de memória, tontura, sensação de opressão no peito, tosse, dores nas juntas, dor de garganta, palpitações, diarreia, sudorese noturna, perda parcial ou total do olfato, taquicardia, febre ou calafrios, queda de cabelo, visão embaçada, congestão nasal, depressão, neuropatia nos pés e mãos, perda parcial ou total do paladar, abscesso na orofaringe, dores abdominais, dor na coluna lombar, falta de ar ao abaixar, olhos secos, náuseas e vômitos, ganho de peso, sensação de ouvido entupido, câimbras nas pernas, tremores, pontos brilhantes no campo visual, sede constante, vermelhidão na pele (rash), sensação de choque no trajeto dos nervos, dor súbita no tórax, zumbido nos ouvidos, confusão mental, contrações musculares involuntárias, irritabilidade.
Acreditar que a infecção pelo novo coronavírus só causa problemas nos mais velhos e naqueles que apresentaram formas graves da doença é não conhecer a realidade. Qualquer pessoa infectada pelo vírus pode evoluir com sintomas de longa duração, ainda que a fase aguda tenha sido relativamente benigna, sem necessidade de cuidados médicos especiais.
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