50emais
Um bom artigo da socióloga Mirian Goldenberg sobre o aumento do número de divórcios, nas últimas duas décadas, entre pessoas com mais de 50 anos.
Mirian aproveita respostas de Sônia e Gilda, a dupla que forma As Avós da Razão, sobre os motivos que levam casais juntos há 20, 30, 40 anos, a se separarem.
A primeira consideração de Sônia é sensata e vai ao ponto: “”Por que as pessoas cismam que o amor é para sempre? Não é!”, diz ela, completando: “Os relacionamentos acabam e as pessoas não têm que ter paciência. Não há paciência que aguente um relacionamento infeliz.”
A socióloga também comenta sua própria história. “Eu sou um exemplo do divórcio grisalho. Aos 57 anos, terminei um casamento de mais de 15 anos, apesar de algumas amigas me assustarem: “Você está velha para se separar.”
Leia:
As Avós da Razão — Sonia Massara, de 86 anos, e Gilda Bandeira de Mello, de 82—, respondem, no YouTube, as perguntas enviadas por seus seguidores e seguidoras. No dia 22 de fevereiro de 2024, Simone, de 60 anos, perguntou:
“Tem-se falado muito do divórcio grisalho e que as pessoas hoje não têm mais paciência de fazer uma relação dar certo porque são muito egoístas. Vocês concordam?”.
Sonia respondeu que não é uma questão de egoísmo.
“Por que as pessoas cismam que o amor é para sempre? Não é! Os relacionamentos acabam e as pessoas não têm que ter paciência. Não há paciência que aguente um relacionamento infeliz. Simplesmente, acabou! Se conscientiza disso e se separa. Antes aos 60 anos do que nunca. Ficar a vida inteira aguentando um velho chato ou uma velha chata? Não tem cabimento!”.
Quando Sonia se separou do seu segundo casamento, aos 60 anos, ela teve que “correr atrás de grana”.
“Eu sei que muitas mulheres têm medo de se separar tardiamente por motivos financeiros. Aos 60, o que eu tinha de dinheiro não dava para me sustentar, então fui procurar um novo trabalho. E o que apareceu foi trabalhar em um box de aves no mercado de Pinheiros. Aprendi uma nova profissão, aprendi a vender o meu produto, aprendi a manejar uma faca. Nessa época, no mercado, a maioria era homem. Fiquei conhecida como ‘a mulher do frango’ de tão raro que era ter uma mulher lá. Deu tudo certo, fui muito feliz e ainda fiz muitas amizades.”
Leia também: Divórcio grisalho: Por que casais de mais idade estão se separando
Ela afirmou que, após a separação, conquistou a sua libertação grisalha.
“Eu sou livre, não preciso dar satisfação a ninguém, não preciso cozinhar na hora em que eu não quero. Posso dormir ou fazer sexo na hora em que eu quero. Eu nunca perco a sensação deliciosa de abrir a porta da minha casa e dizer: ‘Ai que sossego, que paz, que delícia é ter a minha liberdade’. Para mim, isso é a verdadeira libertação grisalha!”
Para Gilda, não existe idade para ser mais livre e feliz.
“A relação com meu ex-marido durou dos 14 anos, quando começamos a namorar, aos 41, quando nos separamos. Depois ficamos muito amigos, mas não era mais um casamento. Tchau, acabou! Naquela época, a mulher separada ficava malvista, porque não tinha muitas separações. Uma mulher de 40 anos se separar era um horror, a gente já estava entrando na virada da curva. Na minha família, eu fui a primeira. Tenho algumas primas que viveram infelizes até o fim, mas nunca se separaram.”
Os preconceitos e estigmas sobre a mulher sozinha ainda permanecem e muitas mulheres reproduzem e fortalecem o clichê: “Não sou feliz, mas tenho marido”.
“O que eu penso do divórcio grisalho? Está ruim, separa e vai ser feliz. É a libertação grisalha, como a Sonia falou. Eu acho uma delícia a minha liberdade. Quando eu trabalhava, se estava voltando para casa e alguém dizia: ‘vamos parar naquele barzinho?’ Eu: ‘vamos!’. E pronto! Não tinha que dar satisfação para ninguém, não tinha que telefonar para ninguém. Essa coisa de ter horário para voltar para casa era a morte para mim. E a gente vai ficando mais velha, vai ficando com mais manias. Imagina eu aqui, tomando uma cerveja com você, e o bofe telefonando: ‘Quando você volta? O que você está fazendo?’.”
O divórcio grisalho é uma realidade cada vez mais comum no Brasil. Nas últimas duas décadas, segundo dados do IBGE, o número de separações de casais acima dos 50 anos aumentou 28% —ante 22% entre os casais mais jovens (de 20 a 50 anos). Em 2021, 25,9% das pessoas que tiveram divórcio confirmado na primeira instância da Justiça ou via escritura tinham mais de 50 anos.
Leia também: As delícias de ser solteiro(a) depois dos 50/60 anos
Eu também sou um exemplo do divórcio grisalho. Aos 57 anos, terminei um casamento de mais de 15 anos, apesar de algumas amigas me assustarem: “Você está velha para se separar. Como vai ser a sua velhice solitária. E, pior ainda, você não tem filhos. Quem vai cuidar de você na velhice?”.
Pouco tempo depois conheci meu atual marido e estou vivendo, desde então, um amor muito mais feliz, prazeroso e companheiro. Como as mulheres de mais de 50 anos que eu entrevistei, posso afirmar categoricamente: “Nunca fui tão livre, nunca fui tão feliz, é o melhor momento de toda a minha vida. É a primeira vez que posso ser eu mesma. É uma verdadeira revolução. É a minha libertação grisalha!”.
Leia também: Amigos constroem vila em São Paulo para envelhecer juntos