Ingo Ostrovsky, 50emais
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Eles voam em bando, parecem os aviões como os que a gente vê nos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. De manhã, a rota é do mar pra montanha. De tarde fazem o percurso inverso.
São pretos e pelo jeito obedecem a uma certa hierarquia. Tem sempre um na ponta; a formação em V inclui um sem número de coadjuvantes e até alguns desgarrados, como aqueles meninos da favela que largam a escola para faturar algum no tráfico.
Daqui da minha varanda carioca debruçada sobre a mata, quase no sovaco do Cristo (“braços abertos sobre a Guanabara”), não dá para saber se são machos ou fêmeas. Nem sei o nome desses seres voantes, sou muito ignorante em pássaros. Na infância gostei de pombas, hoje mal me impressionam aquelas de Picasso.
O dicionário informa que quem estuda as aves é ornitólogo. Vcs conhecem alguma ornitóloga?
Pessoas muito mais bem informadas do que eu garantem que este 50emais tem mais leitoras do que leitoros. Ou devo dizer leitores do sexo masculino e leitores do sexo feminino (correndo o risco de deixar várias letrinhas de fora…)? Não corro nenhum risco de errar, entretanto, ao clamar: garotas, quem aí conhece uma ornitóloga?
Hoje vou receber para o jantar uma amiga dentista, muito bem casada com um economista. Se ela fôsse homem seria dentisto? E ele? Deveria ser economisto?
Tudo isso me ocorre em meio à pandemia (palavra feminina, como tragédia) e a torcida pela recuperação de Laerte, nossa talentosíssima quadrinista. Laerte já foi ele, hoje é ela e, sorte, nem precisou trocar de nome. Saúde, querida!
E vacina (substativo feminino) para tod(os)(as).