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Verdade e mentira

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Passamos décadas ouvindo maravilhas sobre as vacinas, imunizamos nossos filhos desde a primeira semana de vida, guardamos com zelo as cartelas de vacinação e, do nada, de repente, as vacinas viraram bruxas, não vacinar ganhou o quase-status de religião

Ingo Ostrovsky, 50emais

Os Jogos Olímpicos mal terminaram e já está a todo vapor o debate “fomos bem ou fomos mal em Tóquio 2020?”.

Nunca ganhamos tantas medalhas, é verdade. Só que 3 delas foram conquistadas em esportes que não existiam no cardápio olímpico da Rio 2016, última vez que o esporte olímpico havia feito a festa. Quem defende essa tese diz que, na real, ganhamos menos medalhas do que naquela ocasião. Então fomos mal!

A torcida não está nem aí para esse raciocínio. Como já se disse tempos atrás, o esporte preferido do brasileiro é ganhar e lá na capital japonesa o que a gente fez foi ganhar 21 medalhas, não interessa se em esportes desconhecidos dos gregos antigos. Então fomos bem!

É a eterna e perene luta do bem contra o mal. Da verdade contra a mentira. Do mocinho contra o bandido. Um combate que, neste século 21, está cada vez mais difícil acompanhar, por um motivo quase singelo: ficou difícil saber quem é bandido e quem é mocinho. Tem muita gente que eu jurava que era bandido e virou mocinho…

Todos, para o bem ou para o mal, tem seu público: os seguidores.

Essa semana mesmo um sujeito foi preso e avisou sua turma que bandido era quem mandou prendê-lo… e, certamente, há ‘seguidores’ que acreditam nele e seriam capazes de jogar óleo fervendo em qualquer um apontado como algoz. Na Olimpíada o noticiário esportivo usou muito a palavra algoz para identificar qualquer um que derrotasse uma equipe ou um atleta brasileiro. Os dicionários dizem que algoz é o “carrasco, o executor da pena de morte”.

Haja coração para suportar tantos algozes à solta, mesmo que sejam apenas políticos ou juízes defendendo o seu. E acreditando que sua verdade é que é a verdadeira.

Outro exemplo é o das vacinas. Tomar ou não tomar? Uma amiga minha – vacinada – vive um atroz dilema: sua cozinheira se recusa a tomar a vacina e ela, minha amiga, não quer em casa uma pessoa não imunizada, por melhor que seja seu feijão. O argumento da cozinheira? “Tenho uma vizinha que tomou a vacina e ficou doente…”. Não sei quantas vizinhas da cozinheira tomaram a vacina e NÃO ficaram doentes.

É de novo o bom e velho debate entre bandido e mocinho. Passamos décadas ouvindo maravilhas sobre as vacinas, imunizamos nossos filhos desde a primeira semana de vida, guardamos com zelo as cartelas de vacinação e, do nada, de repente, as vacinas viraram bruxas, não vacinar ganhou o quase-status de religião, houve até graves suspeitas de corrupção em torno da compra dos imunizantes. De novo: haja coração para tanto cabo de guerra sobre aquela picada no braço.

Quem defende a volta do público aos jogos de futebol é mocinho ou bandido?

Quem defende o voto impresso nas eleições é bandido ou mocinho?

Quem jura que a urna eletrônica é segura, é mocinho ou bandido?

Beatles ou Rolling Stones?

Samba ou sertanejo?

Direita volver?

Esquerda volver?

A verdade é que hoje são muitas as verdades, cada um tem a sua.

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