Outro dia, depois de muito tempo, entrei numa piscina. Péssima nadadora, fiquei ali brincando com uma bola, batendo os pés e os braços sem muita coordenação. Quando saí, depois de mais de uma hora na água gelada, e fui tomar banho, reparei que estava revigorada, me sentindo desperta. Ontem, após ler este artigo, de Sílvia Ruiz, que mantém o blog Ageless, do Uol, resolvi fazer a experiência: tiritante e dando pulinhos, consegui ficar durante uns quatro minutos no chuveiro. Fora do banheiro, senti a diferença. Definitivamente, estava mais bem disposta. Repeti o banho hoje e o resultado foi o mesmo. Assim como Sílvia Ruiz, tornei-me uma adepta.
Leia que a autora do artigo fala do banho frio:
Eu sempre tive o hábito de tomar banho pelando, mesmo no verão. Portanto a ideia de banho gelado para mim era o tipo de tortura que só topei encarar na época da adolescência em acampamentos sem energia elétrica. Mas, durante a pandemia, lendo artigos sobre imunidade e alternativas para o bem-estar, descobri vários artigos relatando os benefícios do penoso banho frio. E aí resolvi me desafiar e testar por 30 dias.
Mostrei no meu perfil no Instagram (me siga lá também @silviaruizmanga) a jornada que fiz, e muita gente ficou curiosa querendo saber mais. Conversei com nutricionista esportivo Marcelo Guedes, especialista em nutrição clínica funcional e com atuação em nutrigenômica para entender como passar por esse momento de choque de temperatura pode fazer bem para o corpo e a mente.
Minha experiência: sofri bastante nos primeiros 15 dias (os vizinhos devem ter escutado meus gritos no primeiro minuto debaixo do frio). O que fiz foi tomar meu banho quente normalmente e nos últimos minutos deixei a água gelar. Fui aumentando o tempo até chegar a três minutos ao todo. Depois me acostumei e agora o que faço é controlar a mente e a respiração naqueles primeiros momentos do choque. O fato é que eu saio do banho com muito mais disposição e energia, além de notadamente minha pele ficar menos ressecada e os cabelos com mais brilho. Veredito: aos 50 anos, o banho gelado veio para ficar na minha vida.
É bom para a pele e o cabelo
Para quem tem dermatite ou pele com tendência à coceira, a água fria ajuda a reduzir a sensação. Ele também evita que a gente perca a oleosidade natural que a protege (melhor ainda neste caso é usar sabonete neutro somente nas partes íntimas), além de fechar as cutículas dos fios de cabelo. O resultado é pele e cabelo com mais brilho (aquele “glow” de pele saudável que a gente perde na maturidade).
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É estimulante
Quando a água fria atinge o corpo, ela causa uma espécie de choque que aumenta a entrada de oxigênio, acelera os batimentos cardíacos e nos deixa num estado de alerta. Isso causa um estado estimulante, então pode ser interessante para começar o dia ou antes de uma atividade que exige foco e atenção.
Ajuda a dormir
Ao mesmo tempo em que o banho gelado serve como estimulante, ele também pode ser um aliado para o relaxamento antes de dormir. Isso porque a temperatura do corpo tem um papel bem importante para uma boa noite de sono. Ao anoitecer, o corpo naturalmente reduz a temperatura corporal para a gente dormir. Então não é uma boa ideia aumentar a temperatura do corpo e atrapalhar o processo com um banho quente antes de ir para a cama. Nesse caso, o ideal é o frio. Ou seja, o banho frio tem o poder de ser ao mesmo tempo estimulante e relaxante.
Melhora a circulação
A melhora da circulação é um dos maiores benefícios do banho gelado. Quando a água atinge os braços e pernas, causa a contração dos vasos sanguíneos, levando o sangue mais para os órgãos centrais para tentar equilibrar a temperatura. Exatamente o oposto do que acontece quando tomamos banho quente. Para quem tem hipertensão, esse efeito causado pela baixa temperatura que aciona o sistema circulatório, é muito benéfico. Além disso, também ajuda a reduzir inflamação e prevenir doenças cardiovasculares. Banho gelado regularmente torna a circulação mais eficiente.
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Melhora a imunidade
O choque de água gelada na nossa corrente sanguínea estimula a produção de leucócitos, células de defesa do organismo. Isso quer dizer que nosso corpo fica mais apto a combater doenças como viroses e resfriados. Um estudo na Holanda mostrou até que quem tomava banhos frios faltava menos ao trabalho por ficar menos doente. Os banhos frios também nos tornam mais resistentes ao estresse, que gera radicais livres, grandes causadores de doenças. Ou seja, nosso corpo fica mais forte como um todo para enfrentar doenças.
Melhora o humor
Os banhos gelados funcionam como uma espécie de terapia de choque leve. O cérebro libera endorfinas, o chamado hormônio da felicidade, causando uma sensação de bem-estar. Um estudo de 2008 já mostrou que os banhos frios por até 5 minutos, duas vezes ao dia por até três vezes por semana, aliviaram até os sintomas de depressão (obviamente que como coadjuvante de um tratamento).
Acelera o metabolismo e ajuda a emagrecer
O banho gelado aumenta a produção de um hormônio chamado irisina (o mesmo que é liberado quando fazemos exercícios intensos). A substância favorece a conversão de tecido adiposo (gordura) branco em marrom. Esse processo se chama browning, e favorece o aumento da termogênese e do gasto calórico. Ou seja, damos uma força para o processo de perda de peso, para o controle da obesidade e, de forma indireta, da síndrome metabólica e redução de gordura no fígado.
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“Fazer uma atividade de alta intensidade, e depois tomar um banho gelado e, além disso lançar mão de um suplemento à base de resveratrol e cúrcuma, acompanhado de uma xícara de chá verde, é excelente para quem quer perder peso”, diz Guedes. Isso porque essas substâncias também estimulam a irisina e o metabolismo (lembrando que obviamente ninguém vai perder peso sem associar o banho gelado a uma dieta. Isso é um estímulo a mais para o corpo).
Reduz dores
De acordo com vários estudos, a aplicação de água gelada tem efeitos anestésicos em pontos de dor no corpo. A vasoconstrição provocada pelo frio reduz edemas e dores musculares que causam dores. O frio também acelera a condução de sinais nos nervos o que ajuda a reduzir os sinais de dor enviados para o cérebro, reduzindo a percepção de dores. Atletas frequentemente usam o recurso do banho gelado (e até mergulho em banheiras cheias de gelo) em busca de efeito anti-inflamatório e de redução de dores.
Quer tentar?
O ideal é que a temperatura da água fique abaixo dos 20ºC, ou seja, realmente gelada ao toque. Comece devagar. No início, reduzindo a temperatura ao final do seu banho normal. Fique sob a água gelada de 2 a 3 minutos. Respire fundo para ajudar a controlar a mente. Pode até alternar um minuto quente e depois volte para o frio para ir se habituando.
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