Elza Cataldo, 50emais
Nascida em berço de ouro, em 1734, e depois de uma infância nos rigores do catolicismo; como Maria viveu sua juventude? Sabemos que ela foi considerada portadora uma inteligência excepcional e demonstrava ser uma criança cheia de curiosidade. Maria, desde muito pequena, chamava a atenção dos pais, tutores e aias à sua volta.
Viva, disciplinada e disposta a absorver com facilidade os conhecimentos apropriados para a formação de uma rainha. Sim, primogênita, Maria foi criada para ser Rainha de Portugal. Embora sua formação como rainha não possa ser comparada em qualidade àquela oferecida à um futuro rei. O gênero, mesmo que real, já causava discrepâncias. Assim como a possibilidade da presença de uma rainha no trono já prenunciava ares conspiratórios.
Além do mais, seus pais ainda mantinham a esperança de um filho varão. Foi somente após o nascimento da quarta filha dos príncipes que esta possibilidade foi considerada lastimavelmente remota.
Maria foi uma jovem de aparência agradável, mas nunca foi de extraordinária beleza. Nem feia, nem bonita. Naturalmente, exalava o frescor da juventude. Tinha hábitos saudáveis e apreço pela natureza. Gostava de fazer longas caminhadas a cavalo, hábito que manteve ainda adulta, e nunca negligenciava suas obrigações religiosas e o convívio com a mãe e a avó. Recebeu das ancestrais o nome sagrado e sempre quis ser como a Mãe de Deus: uma fonte de bondade.
De fato, sua bondade sobressaía aos atributos físicos. Maria gastava o dinheiro que lhe era dado pelos pais em obras de caridade. E encarnava a austeridade, o atributo feminino mais precioso à época.
Junto com os pais e as irmãs, ela vivia de palácio em palácio. Nesses deslocamentos, a família real levava a mobília, até mesmo suas camas e lençóis, pois não possuía nada em duplicidade. É interessante imaginar as caravanas reais carregadas de camas, mesas, cadeiras, tapeçarias e carpetes, espelhos, serviços de mesa, pratas e vidros.
A corte portuguesa nunca foi faustosa e rica como outras cortes europeias, principalmente se comparada à corte francesa.
Cronistas e diplomatas da época registraram, na segunda metade de século XVIII, um clima de monastério: tristeza e melancolia imperavam nos aposentos palacianos. A precária saúde de D. João V, avô de Maria, contribuía para o agravamento deste clima na corte portuguesa. Uma herança funesta se aproximava.
À medida que se tornava adulta, a carga religiosa foi ficando cada vez mais pesada. Passou a cultivar uma ferrenha determinação de compensar os pecados dos seus ancestrais. E ao decidir espiar os erros cometidos pela sua linhagem paterna contra os comportamentos ditados pela fé católica, acabou atraindo para ela própria uma grande fonte de sofrimento. Embora, no seu casamento tenha conseguido construir uma experiência diferente. Mas isso é uma outra história.
No próximo post, Elza Cataldo vai contar como foi o casamento da princesa Maria, muito diferente dos enlaces em outras famílias reais européias.
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