Maya Santana, 50emais
Jill Biden está sofrendo na pele o que Brigitte Macron, 68, mulher do presidente da França, Emmanuel Macron, 43, sofreu quando o marido foi eleito, em 2017. Durante semanas, as fotos de Brigitte, 25 anos mais velha do que Macron, foram estampadas em jornais do mundo inteiro. Debocharam dela de todas as formas, exatamente por causa dos trajes acima do joelho que costuma aparecer ao lado do presidente. Jill Biden sentiu o gosto amargo do preconceito contra a idade esta semana, quando resolveu se vestir como mostra a foto: saia preta com jaqueta, meia arrastão rendada e bota de cano curto.
Tão logo a imagem circulou, começou o bombardeio contra a primeira-dama. As pessoas foram às as redes sociais, principalmente o twitter, para fazer todo tipo de comentário desrespeitoso. Tudo bem. Você pode não gostar do estilo anos 80 que Jill Biden adotou, mas ninguém tem o direito de chamar uma mulher, seja ela quem for, de “bruxa”, “prostituta, simplesmente pela maneira como ela está vestida. Isso revela, mais do que qualquer coisa, uma boa dose de misoginia e de preconceito explícito contra mulheres mais velhas, que tem até nome: idadismo.
A colunista do Uol, Nina Lemos, ocupou seu espaço esta semana com uma crônica feroz contra aquelas pessoas que querem impor um manual do bem vestir às mulheres que passaram dos 50 anos. “Sim, mulheres são criticadas até pela escolha de meia-calça que fazem. E tudo piora quando você envelhece. A conversa sobre o que uma mulher pode ou não usar depois de uma certa idade é antiga. E não, nunca existiu esse tipo de manual para homens,” diz ela, indignada, arrematando: “Tomara que a primeira-dama não mude seu estilo por causa das críticas. E que nenhuma de nós deixe de usar algo que goste porque ‘não temos idade para isso’. A gente tem idade para o que a gente quiser.” Concordo inteiramente.
Jill Biden, segunda mulher de Joe Biden (a primeira morreu em um acidente de carro), com quem é casada há 43 anos, leciona numa universidade. “Ensinar não é o que eu faço. É o que eu sou,” diz ela, que é a primeira dama mais graduada da história americana: tem dois mestrados e um doutorado. E também é a primeira mulher de um presidente dos Estados Unidos que trabalha fora da Casa Branca. Conhece muito bem as altas esferas do poder americano, pois foi a segunda-dama durante oito anos, de 2009 a 2017, quando o marido foi vice do Presidente Barack Obama.
As críticas ao traje da primeira-dama vieram principalmente de conservadores e conservadoras. Mas houve mulheres que saíram em sua defesa. Uma delas afirmou que, “se as minhas pernas ficassem tão bonitas com botas e meias arrastão como as da Dra. Jill Biden, eu usaria exatamente o mesmo traje.”
Diante de toda a polêmica criada em torno de seu traje, que virou tema de debates e estimulou piadas etaristas e sexistas, a primeira-dama reagiu como Brigitte Macron: ignorou solenemente seus críticos.
Leia também: Veja por que Jill Biden faz história como primeira-dama dos Estados Unidos
Mulheres muito mais jovens do que o marido pode. Por que o oposto não?
Kamala Harris torna-se a 1ª mulher vice-presidente da história dos EUA