Ingo Ostrovsky,50emais
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A recente mexida no ministério do presidente do Brasil mereceu de um deputado um comentário que, confesso, eu tive uma certa dificuldade de entender. Ele disse que o governo está parecido com a “casa da mãe Joana”.
Você conhece a mãe Joana? Sabe como é a casa dela?
Fui pesquisar.
O que descobri não é muito abonador para o atual ocupante da nossa presidência. Casa da mãe Joana é o lugar onde “vale tudo; (lugar) sem ordem; onde predomina a confusão, a balbúrdia e a desorganização”. Segundo as fontes da Wikipedia, a origem da expressão é mais desabonadora ainda. Dona Joana Primeira foi rainha de Nápoles e condessa de Provença, viveu na Idade Média, entre 1326 e 1382. Foi ela quem estipulou os estatutos e as regras de funcionamento dos bordéis de Avignon para onde foi exilada pela Igreja devido a seu comportamento desregrado e permissivo.
Naquela época ficou estabelecido que os bordeis teriam que ter “uma porta de entrada e saída para todos”. Ninguém entrava ou saía pela porta dos fundos, as coisas eram feitas às claras. Os administradores tinham a obrigação de assegurar que as mancebas não se misturassem com as senhoras de bem, as casadas e mães de família.
Em palavras mais simples: o deputado acredita que o Palácio do Planalto está funcionando como uma casa de tolerância. Isso quer dizer que com alguns trocados pode se comprar prazer – no caso, prazer político – daquele lado da Praça dos Três Poderes. O comentário do deputado foi feito a propósito da troca de comando na Casa Civil, que, portanto, mudaria de nome e passaria a se chamar Casa Civil da Mãe Joana. A diferença fundamental é que hoje são muitas as entradas e saídas, há elevadores privativos, sociais e de serviço. Dá para ir à casa da mãe Joana sem ser visto, sigilo absoluto, privacidade garantida. Coisa inimaginável na Idade Média.
Não foi meu único espanto na semana.
Como muitos brasileiros fiquei felicíssimo com a medalha de prata da nossa skatista-fada, a jovem maranhense Rayssa Leal. Não vou repetir aqui todos os adjetivos usados pela crônica esportiva para descrever o feito da garota. Concordo com a maioria deles. Minha surpresa foi outra: na transmissão das provas de skate feminino aprendi uma palavra nova. Quando a competidora alemã escorregou naquele maldito corrimão e caiu no chão de pernas abertas a comentarista da TV não teve dúvidas:
“Xerecou ” sapecou ela.
Como é que é?
Xerecou! Caiu de xereca no cimento japonês. Fiquei sabendo que a direção da TV chamou a atenção da moça, que estaria sendo “informal” demais. Mas ela entende de skate, é bem articulada e fez o possível para não repetir mais a palavra. Eu aqui fiquei com a impressão de que a comentarista não cometeu qualquer deslize. Apenas usou no ar uma expressão que as skatistas provavelmente usam no dia-a-dia, sempre que um acidente semelhante acontece. Xerecar deve ser uma palavra corrente no skatismo e vai ser repetida agora que o esporte começa a se popularizar.
Na escola de samba os destaques do desfile criaram o tapa-sexo. Certamente as meninas do skate vão inventar algo parecido para se proteger.
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